sexta-feira, 15 de abril de 2016

Dilma tenta reverter debandada de aliados

A presidente Dilma reuniu governadores e ministros no Palácio da Alvorada para tentar reverter a debandada de aliados

Dilma convoca governadores do NE para tentar conter debandada

• Deputado causa saia-justa ao dizer que governo não tem votos necessários

Catarina Alencastro, Eduardo Barretto, Isabel Braga, Jeferson Ribeiro e Simone Iglesias - - O Globo

-BRASÍLIA- Numa tentativa de última hora de conter a debandada de aliados, o governo mobilizou governadores do Nordeste e pediu que eles façam reuniões com as bancadas estaduais e deputados com quem tenham afinidade. Estiveram no Palácio do Planalto os governadores da Bahia, Rui Costa (PT); do Piauí, Wellington Dias (PT); do Ceará, Camilo Santana (PT), e da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). O governo conta ainda com o apoio do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Ainda nessa estratégia, o Planalto estuda a possibilidade de ministros irem ao Congresso para intensificar o corpo-a-corpo com deputados indecisos.

A presidente Dilma Rousseff se envolveu ontem desde cedo na batalha por votos contra o impeachment. No início do dia, ela recebeu para um café da manhã no Palácio da Alvorada seis ministros, entre eles três do PMDB e Antonio Carlos Rodrigues, do PR, e sete dos deputados que mais a defendem na Câmara.

Após o encontro, no entanto, o líder do PT na Câmara, Afonso Florence, chegou a verbalizar que o governo não conta com todos os 172 votos necessários para barrar o impeachment. Ao longo do dia, o Planalto tentou reverter o clima de “já ganhou” que parece dominar os que defendem o fim do mandato de Dilma.

— Hoje, eles (os pró-impeachment) não têm 342 votos. O governo tem quase os 172. Mas ausências e abstenções caracterizarão na prática os “não 342” — afirmou Afonso Florence à saída do Alvorada.

A declaração do líder petista causou mal-estar no Planalto, que atuou para que a fala fosse corrigida. Após a publicação, a assessoria do Planalto entrou em contato para afirmar que tem o número suficiente de votos para impedir o impeachment na Câmara. A assessoria destacou a fala de José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, de que seriam “mais de 200” apoios. No entanto, já na noite da última quartafeira, interlocutores de Dilma admitiam reservadamente que o governo não contava com todos os votos de que precisa no plenário da Câmara.

Florence afirmou que há uma tentativa de criar um ambiente de que a oposição já dispõe dos votos, quando, segundo ele, isso não é real.

— Os indecisos irão se posicionar. Nossa conduta de não veicular vitória prévia mostra para o Brasil que o impeachment não passará. Os partidos da base vão encaminhar a favor, mas temos votos nas bancadas. A oposição não tem os 342 votos, é factoide — disse o líder petista.

Dilma deve fazer um discurso ou dar uma entrevista coletiva após o resultado da votação no plenário da Câmara, domingo. Amanhã ela vai ao acampamento dos movimentos contra o impeachment, em Brasília, para reforçar a mobilização da militância

“Quem tem uma listinha?”
Não só os petistas afirmaram que o jogo ainda está sendo jogado e o resultado ainda pode surpreender até domingo.

— Pior é o cego que não quer enxergar. Essa antecipação de vitória pode não ser uma boa estratégia. O que é mais real: a caneta com tinta ou a caneta sem tinta? Eles têm que colocar 342 (votos) — afirmou o deputado Wellington Roberto (PR-PB). Segundo ele, o partido vai garantir pelo menos 17 votos (de uma bancada de 40) na votação de domingo.

Ao receber em sua casa aliados na batalha contra o impeachment, Dilma chegou a fazer graça com a profusão de listas dos nomes pró e contra seu afastamento do cargo.

— Quem tem uma listinha aí para eu ver? — brincou a presidente, segundo o relato de um participante da reunião.

Nas conversas, ontem, predominava a análise sobre como o governo perdeu o controle dos votos com a debandada de aliados e partidos nanicos a favor do impeachment.

— Na sexta-feira, o governo avaliou que a votação estava ganha a seu favor. Relaxou, e os partidos sofreram pressão nas bases. Houve descuido. Quando chegou a segunda-feira, o quadro tinha mudado — disse um auxiliar presidencial.

No Planalto, o movimento foi intenso dentro dos gabinetes, mas nos corredores do prédio, o clima era de calmaria.

— Hoje foi um dia de reflexão, de meditação, e de avaliar o que a gente realmente tem e o que não tem — pontuou um assessor de Dilma.

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