segunda-feira, 4 de abril de 2016

Em resposta a editorial da Folha, Dilma diz que 'jamais renunciará'

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff respondeu ao editorial da Folha ("Nem Dilma nem Temer" ), dizendo que "jamais renunciará".

O texto foi colocado no perfil oficial da presidente no Facebook. "Setores favoráveis à saída de Dilma, antes apoiadores do impeachment, agora pedem a sua renúncia. Evitam, assim, o constrangimento de respaldar uma ação 'indevida, ilegal e criminosa'. Ao editorial da Folha de S.Paulo publicado neste domingo (3), fica a resposta da presidente: 'Jamais renunciarei'", diz a publicação, acompanhada de um vídeo com trechos de discursos anteriormente proferidos pela presidente.

O editorial "Nem Dilma nem Temer" afirma que a presidente perdeu as condições de governar o país e, por isso, deve renunciar. O texto defende ainda que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) renuncie para que possam ser convocadas novas eleições. A Folha nunca defendeu o impeachment de Dilma.

Repercussão
O ministro Edinho Silva (Comunicação Social) também criticou a posição defendida pelo jornal. Em nota, ele afirmou que "infelizmente, o editorial da Folha neste domingo, publicado semanas antes da deliberação da Câmara dos Deputados sobre o ilegal processo de impeachment da presidenta Dilma, engrossa o coro daqueles que não aceitam o resultado legítimo das urnas, daqueles que querem golpear a jovem democracia brasileira".

"O posicionamento do jornal contradiz todo o esforço que a Folha tem feito nas últimas décadas de ser um veículo que 'joga o jogo da democracia'", concluiu o ministro.

Procurada, a assessoria do vice-presidente Michel Temer disse que não comentaria o texto. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adotou a mesma posição.

Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello diz-se afinado com a posição do jornal.

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que há alguns meses defendeu publicamente que Dilma renunciasse, afirmou que "o editorial mostra o que quase todos veem: que o governo da presidente Roussef e do PT perdeu a capacidade de dirigir o país".

"Há algum tempo eu pedi a ela publicamente que, em um gesto de grandeza, propusesse ao Congresso algumas medidas básicas para o país e oferecesse sua renúncia. A resposta a este clamor, agora também da Folha, foi clara: 'não renunciarei!'"

O ex-presidente indagou: "Por que haveria de aceitar hoje o que ontem negou? Sem a renúncia da presidente, como pedir ao vice que faça o mesmo?". Nesse cenário, diz FHC, "só resta insistir no impeachment". "E, se por meios inescrupulosos a Câmara ceder ao governo, caberá ao TSE julgar se há provas para invalidar as eleições de 2014."

Defensor do impeachment, presidente nacional do DEM, senador Agripino Maia (RN), diz não acreditar na possibilidade de renúncia de Dilma e lembra que seu o apoio ao vice-presidente está condicionado ao compromisso do peemedebista de não vislumbrar a permanência no Palácio do Planalto após 2018.

"Dilma não renuncia, não há hipótese, a chance é nenhuma. O Brasil já vai mal diante da expectativa de impeachment, mas irá muito pior se houver a frustração da expectativa", afirmou.

Segundo Agripino, "Temer será um mero instrumento de um governo de coalizão. Já conversei com ele, e a condição de governabilidade é não ser candidato à reeleição. Se ele começar a falar nisso, partidos como PSDB, DEM e outros vão tirar o apoio, transformando-o numa nova Dilma".

Líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE) classificou a posição do jornal como "equivocada". "Não vejo a presidenta renunciar, assim como não vejo hipótese de tantos segmentos abrirem mão (de seus mandatos). E quem quiser interromper o processo democrático deve assumir a responsabilidade por isso, não dá é para querer que ela a assuma", criticou.

Ele questionou ainda a legitimidade de Temer para ocupar a Presidência. "Não tem base social para tocar o governo. E vai ter no Congresso? Quem sabe? Dilma pode voltar a contar com a maioria no Congresso, como já ocorreu."

Assim como a maior parte dos atores políticos, ele acredita, porém, que a possibilidade de todos deixarem seus postos é próxima de zero.

"Minha leitura é aquilo que está ali (no editorial), o Brasil não pode continuar sangrando. Mas isso é uma visão utópica, de quem sonha e de quem não se imagina no Brasil. Os ocupantes são muito apegados aos cargos, o interesse nacional não prevalece", atacou o magistrado.

Entre os petistas, a ordem é engrossar o discurso de que a queda de Dilma não prosperará. Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) defende, inclusive, uma repactuação do governo com a participação da oposição.

"Pensaram que afastar a Dilma era tão fácil quanto afastar o Collor. Tem que sentar na mesa e repactuar o país, com a oposição. A condição de governabilidade se cria, se constrói. É só a oposição querer", propôs Guimarães.

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