sexta-feira, 8 de abril de 2016

Na Câmara, 60% dizem votar pelo impeachment de Dilma Rousseff

Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A maior parte dos deputados federais está decidida a votar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara –a votação está prevista para o domingo, dia 17 de abril.

Em levantamento feito pelo Datafolha de 21 de março a 7 de abril entre os parlamentares, 60% deles dizem que darão votos favoráveis ao impedimento da petista.

O número, porém, não é suficiente para que se aprove o processo: caso a percentagem seja projetada para o total de 513 votantes (contando o presidente da Casa, Eduardo Cunha, do PMDB-RJ, que anunciou que deve se manifestar), o impeachment de Dilma teria hoje 308 votos –34 a menos que os 342 necessários (67% da Câmara) para que a ação seja levada ao Senado.

No lado oposto, 21% dos deputados declararam votos contrários ao processo –seriam 108 parlamentares a favor do mandato da presidente. Para permanecer no cargo, a presidente precisa que 172 parlamentares não votem pelo impedimento.

O cenário atual de encaminhamento do caso ao Senado depende dos 18% dos deputados que estão indecisos ou não declararam a posição (o 1% que falta para os 100% deve-se à aproximação).

No recorte das quatro maiores bancadas da Câmara (PMDB, PT, PSDB e PP), a situação da presidente só pode ser considerada tranquila em seu próprio partido.

No PP, que o governo corteja para ampliar a participação na máquina federal –e que, em reunião nesta semana, decidiu permanecer formalmente aliado a Dilma–, votos pró-impeachment chegam a 57%; indecisos são 30%.

Os índices são semelhantes aos do PMDB, que era o maior aliado da presidente e desembarcou de sua base de apoio no mês passado: 59% dos deputados do partido devem votar pelo afastamento; 38% não se posicionaram.

Este é o terceiro levantamento do tipo feito pelo Datafolha entre os parlamentares. Em relação às pesquisas anteriores houve uma evolução no número de deputados federais a favor do impeachment (de 42% em dezembro para 60% em março e abril).

Também se registrou recuo entre os contrários ao processo (eram 31% em dezembro, ante 21% hoje) e entre os indecisos (de 27% para 18%).

A evolução acompanha os desdobramentos do processo de impeachment, aberto no início de dezembro.

Desde a criação de um colegiado para analisar o pedido na Câmara, em 17 de março, o governo perdeu o apoio de seu maior aliado, o PMDB, e iniciou uma estratégia de oferecer cargos em ministérios nas mãos de peemedebistas para partidos como PP, PR, PSD e PTN para tentar obter votos a seu favor na Casa.

Nesta semana, a comissão apresentou parecer favorável ao processo, relatado por Jovair Arantes (PTB-GO).

Na segunda-feira (11), o texto deve ser votado no órgão e, em seguida, apreciado pelo plenário. Se aprovado, o processo será encaminhado para o Senado, onde maioria simples define o acolhimento ou não da denúncia; em caso positivo, Dilma é afastada por 180 dias da Presidência até a definição do caso.

O Datafolha perguntou aos senadores como eles votariam caso o processo chegue mesmo à Casa, depois de aprovado na Câmara.

O cenário também é majoritariamente desfavorável a Dilma: 55% dos senadores afirmam que votariam pelo afastamento definitivo da petista; 24%, contra.

Alternativa ao impeachment, a renúncia de Dilma também é defendida pela maioria dos deputados (55%) e dos senadores (48%).

Eduardo Cunha
A pesquisa do Datafolha mostra também que a situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tende a ser tão desconfortável quanto a da presidente.

Entre os deputados, 61% disseram que defendem sua renúncia (23%, que ele deveria permanecer no cargo).

O mesmo percentual declarou que votaria, no plenário, pela cassação de seu mandato, caso o processo chegue a esse estágio –ele ainda corre no Conselho de Ética. Cunha é acusado por delatores da Lava Jato de receber propinas do petrolão e de ter mentido, em depoimento à CPI da Petrobras, sobre contas na Suíça.

Metodologia
O Datafolha ouviu 359 parlamentares entre 21 de março e 7 de abril de 2016.

Na pesquisa, cada parlamentar foi contatado diretamente, por telefone, e informado de que as informações coletadas seriam confidenciais e haveria garantia de anonimato das respostas.

Todos os 513 deputados e 81 senadores que compõem o Congresso Nacional foram contatados pelo Datafolha por telefone.

Foram ouvidos 291 deputados e 68 senadores, e os resultados foram ponderados segundo as bancadas dos partidos, com o pressuposto de que a filiação é uma variável importante na definição do voto.

Os que não aceitaram participar ou não responderam, somados aos que participaram, mas não se posicionaram em determinadas questões, formam um grupo suficientemente grande para, eventualmente, alterar tendências dos resultados.

O levantamento representa as posições atuais dos entrevistados. Fatos novos e negociações partidárias podem alterá-las.

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