domingo, 3 de abril de 2016

O ruim e o pior - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

O governo Dilma Rousseff morreu na terça-feira e ressuscitou na quarta, mas continua combalido, combatendo em várias frentes. O rompimento do PMDB seria a senha para os partidos governistas médios e pequenos pularem na tese do impeachment, mas a traição de Renan Calheiros, urdida na residência oficial do Senado, inverteu o sentido. Em vez de atrair, o PMDB atirou PP, PR, PSD, PRB e siglas menores no “feirão de cargos” de Dilma/Lula.

Nunca é demais repetir que o símbolo disso é o Ministério da Saúde, num joguete doentio entre ofertas escabrosas do Planalto e demandas indecentes do que seria a “base aliada”. Mas o fato é que o PT continua tendo estratégia, enquanto o PMDB, como a oposição, parece um bando de amadores batendo cabeça. E o vice Michel Temer deixa de ser vitrine para virar vidraça.

A semana reservou mais um choque da Lava Jato na sexta: o encontro das águas entre mensalão e petrolão, com o fantasma do prefeito Celso Daniel assombrando o PT e pairando sobre o debate e a contagem de votos do impeachment. O número de parlamentares indecisos é alto, assim como na opinião pública. Qualquer susto faz diferença para mais ou para menos.

Analistas e agentes políticos e econômicos têm manifestado temor e dúvidas quanto ao pós-impeachment com Temer. “Meu Deus! É essa a alternativa?”, resumiu o ministro Luís Roberto Barroso, ecoando o que milhares de pessoas se perguntaram depois da foto do rompimento com Eduardo Cunha na primeira fila. Falta, porém, pesar os riscos da hipótese contrária, a de não impeachment, para o País, a economia, os empregos e a crise política.

Com a queda de Dilma, Temer tentaria um difícil pacto, com “notáveis” nos principais ministérios, a maioria do Congresso, entidades da sociedade, dos setores trabalhista, industrial, comercial e financeiro, para um reequilíbrio político e a recuperação da economia. Com esse capital, buscaria apoio da opinião pública – hoje, muito arisca.

E se Dilma ficar? Desacreditada, saindo de um processo de impeachment, com Celso Daniel insepulto, a Lava Jato nos calcanhares de Lula, apoio político precário, militantes de punhos erguidos e um punhado de artistas colorindo a cena, que chances ela tem de pedir uma trégua para o capital, que está apavorado, e para os trabalhadores, com o desemprego na casa dos milhões? Como “repactuar” o seu governo, no aceno de Jaques Wagner? O pior: e a economia?

O Brasil e o Congresso estão entre a cruz e a espada, mas há diferenças entre os cenários. Um é a chance de recomeçar, criar expectativas, abrir janelas, arejar o ambiente político. Outro é tentar corrigir tantos erros acumulados e recuperar a credibilidade e a popularidade perdidas para recosturar a esgarçada malha política, frear a queda da economia no abismo. Essa grande dúvida, a do mal menor, envolve o país numa nuvem de incertezas.

Há, ainda, as ruas. Os movimentos vermelhos sempre estiveram e continuarão a postos e os novos manifestantes de verde e amarelo gostaram da brincadeira, não vão arredar pé. Logo, fique Dilma, assuma Temer, os protestos continuarão – e dos dois lados. No centro, num ou noutro cenário, estarão Lula e o PSDB. Assombrado por mil e um fantasmas, até por Roberto Jefferson – “Oi, zum zum zum zum, tá faltando um!” –, Lula é quem pode aquietar suas tropas, em caso de Temer, ou arregimentar um acordão, em caso de Dilma. E o PSDB será avalista da transição com Temer ou o acalmador de ânimos com Dilma, para o País não afundar de vez.

E há mais um complicador: dê Temer ou Dilma, o processo de impeachment acaba, mas o do TSE continua. O risco do vice é se tornar “Temer, o Breve”. O de Dilma é nadar, nadar e nadar contra o impeachment para morrer na praia da cassação. E, ainda assim, a guerra continua.

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