sexta-feira, 22 de abril de 2016

Temer diz que Dilma prejudica o Brasil


Por Andrea Jubé e Camilla Veras Mota – Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A tensão entre a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer (PMDB) aumentou ontem e deu à disputa um caráter de crise institucional. Com a intenção de neutralizar a estratégia de Dilma de propagar no exterior a ideia de que seu impeachment é um golpe de Estado, Temer deu ontem entrevistas a jornais estrangeiros para rebater a tese e disse que Dilma prejudica o país ao falar que seu afastamento é uma ruptura da ordem democrática. No cargo de presidente interino, o pemedebista afirmou que está pronto para assumir o comando do país e disse que já está preparando seu ministério.

"Ela diz que sou o chefe do golpe, o que obviamente é perturbador para mim e para a vice-presidência da República", disse Temer ao jornal "The Wall Street Journal". "Se cada etapa do impeachment está de acordo com a Constituição, como pode ser golpe?", declarou o pemedebista.

"Não há golpe de forma alguma acontecendo no Brasil", afirmou Temer ao Financial Times.

As entrevistas para rebater a pecha de golpista, concedidas de forma separada aos jornais "The Wall Street Journal" e "Financial Times", foram divulgadas ontem, na véspera do discurso que Dilma deve fazer hoje na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, para denunciar o golpe no país. Temer assumiu ontem a presidência interinamente e ficará no cargo até sábado, quando Dilma deve retornará dos Estados Unidos.

Ao "Financial Times", o vice-presidente afirmou que "vários ministros do Supremo Tribunal Federal" disseram que o possível impeachment da presidente da República "não representaria um golpe". "Este é um processo constitucional", disse. Nas entrevistas divulgadas ontem, o pemedebista afirmou que "vai retornar a seu posto" assim que Dilma retornar o país, na tentativa de mostrar que não dará um golpe.

Temer afirmou que está conversando com potenciais ministros e que espera construir um governo de coalizão para o país durante o julgamento de Dilma no Senado. "Quando chegar a hora, vou ter um ministério formado na minha cabeça e só então vou revelar nomes", afirmou ao "The Wall Street Journal".

Ao "Financial Times", disse que a presidente perdeu, simultaneamente, base de sustentação no Congresso e apoio da população. "Quando ela me acusa de ser um conspirador ou um conspirador ou um golpista, me pergunto se realmente teria a capacidade de influenciar 367 deputados e 70% da população. Trata-se de algo sem o menor fundamento".

Temer desembarcou ontem em Brasília, acatando a recomendação de sua segurança pessoal e os conselhos de auxiliares de que deveria assumir a Presidência interina na capital federal, para confrontar da sede do Executivo o discurso de Dilma. O pemedebista não vai despachar do gabinete de Dilma no terceiro andar do Planalto. Segundo auxiliares, vai manter o estilo discreto e, como das ocasiões anteriores, permanecerá na Vice-Presidência, onde receberá aliados.

Para os próximos dias são aguardadas duas importantes reuniões, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que comanda o processo de impeachment, e com o economista Henrique Meirelles, executivo da holding J&F e ex-presidente do Banco Central, cotado para o Ministério da Fazenda. Com Meirelles o encontro pode ocorrer amanhã.

Para um eventual governo Temer, são nomes confirmados, embora os cargos ainda não estejam definidos: o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, cotado para a Casa Civil, o ex-ministro Moreira Franco, o presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR), e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. O senador José Serra (SP) é cotado, mas o PSDB resiste. O PP terá dois ministérios, e o PSB pelo menos um.

Depois da votação do impeachment na Câmara, o pemedebista passou a semana em São Paulo, onde se reuniu com aliados para discutir a formação do novo governo. Ontem, reuniu-se com o ex-ministro Moreira Franco, um de seus principais aliados.

A segurança de Temer recomendou que o pemedebista trocasse São Paulo por Brasília depois que cerca de 80 jovens protestaram ontem m frente à casa dele, em São Paulo. Integrantes do "Levante Popular da Juventude" escreveram no asfalto diante da casa do pemedebista "QG do golpe", rasgaram cópias da Constituição Federal e gritaram palavras de ordem. Mais de 20 seguranças foram acionados e a casa foi cercada por barreiras de proteção de metal.

Se o Senado acolher o processo de impeachment, Dilma será afastada por até 180 dias, e será substituída por Temer. Se a presidente for condenada, o peemedebista ficará no cargo até a sucessão de 2018. (Colaborou Gustavo Brigatto, de São Paulo. Com agências noticiosas)

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