sexta-feira, 22 de abril de 2016

Temer lança ofensiva fora do país contra tese de golpe

Contraofensiva de Temer tenta desmontar no exterior tese de golpe

Graciliano Rocha – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - No dia em que Dilma Rousseff viajou para os EUAcom a intenção de denunciar o que chama de golpe de Estado representado pelo processo de impeachment, o vice-presidente Michel Temer lançou uma contraofensiva na imprensa internacional para rebater a tese de que o possível afastamento da presidente represente ruptura da ordem institucional do país.

Temer concedeu entrevistas separadamente ao "The New York Times" e a duas das principais publicações especializadas em finanças do mundo –o nova-iorquino "The Wall Street Journal" e o londrino "Financial Times"– para rejeitar a pecha de golpista que Dilma tem lhe atribuído. O peemedebista também diz que revelará os integrantes de seu ministério quando o momento chegar.

Foram as manifestações públicas mais aprofundadas do peemedebista desde que 367 dos 513 deputados da Câmara aprovaram a continuidade do processo de impeachment, no domingo (17).

"Se cada etapa do impeachment está de acordo com a Constituição, como pode ser golpe?", disse Temer ao "The Wall Street Journal".

"Estou muito preocupado com a intenção da presidente de dizer que o Brasil é uma República de menor importância onde há golpes", afirmou ao "The New York Times".

Se o Senado der continuidade ao processo iniciado pela Câmara, Dilma será afastada por até 180 dias, sendo substituída por Temer. Em caso de condenação, o peemedebista fica no cargo até a posse do sucessor escolhido pelas urnas em 2018.

Dilma pretende dizer nos EUA que as chamadas pedaladas fiscais não constituem motivo suficiente para seu afastamento e que ela não é alvo de acusações de corrupção, diferentemente de grande parte dos congressistas que votaram para destituí-la.

Ao internacionalizar o discurso de que o impeachment solapa a democracia brasileira, Dilma busca minar a legitimidade de Temer aos olhos da comunidade internacional.

Falando na condição de presidente interino devido à viagem de Dilma ao exterior, Temer disse que deixará o cargo com a volta da titular, no sábado (23), o que prova do funcionamento regular das instituições no país.

O peemedebista expressou descontentamento com as recentes acusações de que esteja conspirando para destituir a presidente e, assim, tomar o lugar dela. "O fato de ela estar dizendo que eu sou um golpista é obviamente perturbador para mim e para a Vice-presidência", disse.

Ele criticou a companheira de chapa com quem foi eleito em 2010 e reeleito em 2014. Segundo ele, Dilma deveria cuidar da sua defesa no Senado, etapa seguinte do processo de impeachment, ao invés de criar problemas para o Brasil fazendo "falsas declarações" no exterior.

"O que ela deveria fazer, na minha opinião, é defender-se no Senado, com argumentos sólidos e então o Senado não vai julgá-la nem afastá-la", disse ao "Financial Times".

Também ao diário britânico, Temer relatou que Dilma perdeu, simultaneamente, base de sustentação no Congresso e apoio da população.

Segundo pesquisa Datafolha do início de abril, o governo Dilma é avaliado como ruim ou péssimo por 63%.

"Quando ela me acusa de ser um conspirador ou um golpista, eu me pergunto se eu realmente teria a capacidade de influenciar 367 deputados e 70% da população brasileira. Trata-se de algo sem o menor fundamento", afirmou Temer.

O vice também reclamou de ter sido isolado pelo Planalto. "Eu passei quatro anos em absoluto ostracismo", disse.

Novo governo
Temer também se disse preparado para montar um novo governo no caso de o Senado aprovar a continuidade do processo de impeachment, mas evitou mencionar nomes.

"Quando o tempo chegar, eu terei o governo na minha cabeça e só então vou anunciar os nomes", disse.

Na mesma pesquisa Datafolha, realizada em 7 e 8 de abril, a taxa dos que defendiam também o impeachment de Michel Temer era muito semelhante à dos que queriam ver Dilma longe do Palácio do Planalto: 58% a 61%.

Em diferentes simulações da disputa presidencial de 2018, o atual vice-presidente alcança entre 1% e 2% das intenções de voto.

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