domingo, 22 de maio de 2016

Gestor de crises – Miriam Leitão

- O Globo

O novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, se consolidou como um gestor de crises quando enfrentou a falta de energia em 2001. Quem o acompanhou naquele momento ainda se lembra das suas habilidades em momento difícil. O problema fora criado por erros do governo, mas sair dele ficou mais fácil pela maneira como Parente administrou a escassez.

Ter levado Pedro Parente para a Petrobras foi uma vitória do governo Temer. Há nomes no time de indiscutível competência, mas o problema é que a tarefa que os aguarda é grande demais. Houve, no governo Dilma, um desmonte da solidez fiscal e um atentado à estrutura corporativa e financeira das empresas e bancos estatais.



Parente vai administrar uma empresa que enfrentou uma queda livre por terríveis erros gerenciais, corrupção deslavada, mudança da conjuntura de preços internacionais, quebra da confiança dos investidores e credores. Não podia ser maior o desafio.

Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, trabalhou no grupo de trabalho formado por Pedro Parente na época da crise de energia de 2001 e conta que, ao contrário do que ficou na mente dos brasileiros, não houve um racionamento, mas sim um conjunto de incentivos à redução e multa para quem excedia, que acabou induzindo à diminuição voluntária do consumo:

— O perfil executivo dele é impressionante. Ele não era da área de energia, mas conseguia assimilar as informações com muita rapidez. E conseguiu montar uma equipe com muita competência.

O segundo mandato de Fernando Henrique começou com a desvalorização da moeda. Isso derrubou a popularidade do presidente e o PT começou a campanha “fora FHC” pedindo seu impeachment. Quando essa primeira crise foi superada, o país retomou o ritmo e cresceu 4% em 2000. No fim desse ano se descobriu que não havia energia para manter o suprimento. Foi neste momento que o presidente deslocou seu chefe da Casa Civil para ficar integralmente dedicado à gestão da crise. O problema ocorreu por falta de planejamento, mas a gestão de Pedro Parente foi capaz de mitigar seus efeitos. Ele montou um gabinete de crise, se informou sobre o tema, passou a compartilhar essas informações com os ministros e criou um sistema para enfrentar a emergência ao mesmo tempo que preparava medidas de médio prazo:

— A meta era reduzir 20% do consumo, mas chegou-se a 25% com mecanismos de incentivo à redução e punição aos excessos, descontos e multas. Foi feito o diagnóstico do sistema e listadas 35 medidas. Uma delas, montar um backup com as termelétricas. Algumas foram instaladas para serem acionadas apenas em época de crise. Isso foi usado no final de 2003, já no governo Lula, e serviu de inspiração para o que foi feito depois.

A diferença em relação à crise da presidente Dilma é que ela não admitiu o problema, não o administrou, as empresas quebraram e tiveram que ser socorridas por empréstimos do Tesouro e dos bancos com garantia de repasse às tarifas. Daí veio o tarifaço. A grave recessão que houve depois reduziu o consumo. As duas nasceram da soma de erros do governo e de secas, mas a primeira teve um gestor de crise para mitigar os efeitos.

— A palavra apagão é equivocada. Pedro Parente foi o ministro da solução da crise de energia do país — disse Elbia.

Mas agora o problema é de assombrar. A Petrobras foi o epicentro do maior escândalo de corrupção da história e tem uma dívida de R$ 450 bilhões. Segundo o diretor executivo e líder da Indústria de Energia da Accenture Strategy, Daniel Rocha, o novo presidente da companhia terá que rolar essa dívida com juros que não sejam altos demais, mesmo a empresa tendo perdido o grau de investimento. Terá também que fazer um plano de venda de ativos mais organizado e menos errático do que o que vinha sendo feito:

— Para isso ele precisará definir o que é a Petrobras do futuro e assim decidir o que não é estratégico. Além disso, precisa ter liberdade de formação de preços.

O mais importante, Pedro Parente já garantiu: o de que não haverá indicação política na Petrobras. Os ex-diretores apanhados na Lava-Jato disseram que a forma de chegar à diretoria era por indicação de partidos. Essa garantia de Parente é fundamental para que haja a chance de um tempo novo para a Petrobras.

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