terça-feira, 31 de maio de 2016

Gravações derrubam segundo ministro

Por Andrea Jubé e Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - Depois de passar um dia acenando com a permanência do ministro no cargo, o Palácio do Planalto confirmou, ontem à noite, a demissão do titular do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Martins Silveira. É a segunda baixa em 18 dias de governo interino do presidente Michel Temer. Na última segunda-feira, o então ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), do núcleo mais próximo de Temer, foi exonerado pelo mesmo motivo que Silveira: envolvimento na Operação Lava-Jato.


A divulgação de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado mostrou Fabiano Silveira criticando a Lava-Jato e orientando a defesa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que responde a inquéritos relativos à investigação no Supremo Tribunal Federal. Machado, que é investigado na operação, fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República e gravou diálogos com Renan, Silveira e outras lideranças do PMDB. Foi a revelação dessas conversas que provocou, da mesma forma, a exoneração de Jucá na semana passada. O clima no Planalto é de apreensão: Temer foi informado de que existem 60 horas de gravação de Sérgio Machado.

Apesar das negativas de Renan, Silveira, que foi servidor do Senado, é apontado como apadrinhado do pemedebista no ministério de Temer. Caberia a ele, entre outras atribuições, conduzir os acordos de leniência envolvendo empreiteiras da Lava-Jato. Silveira aparece nos áudios em reunião com Renan, Machado e Bruno Mendes, um dos advogados do presidente do Senado.

Ontem o impasse sobre a saída de Silveira seguiu o mesmo script que a demissão de Romero Jucá. Na noite de domingo, quando os diálogos foram revelados pela TV Globo, Silveira foi ao encontro de Michel Temer no Palácio do Jaburu para dar explicações sobre as conversas. Segundo interlocutores de Temer, Silveira garantiu ao presidente interino que não haveria novos áudios, porque ele não teria participado de outras conversas com Renan e Machado.

Ficou combinado que Temer avaliaria a repercussão do episódio para decidir sobre a manutenção de Silveira no cargo. Durante todo o dia de ontem, auxiliares de Temer afirmavam que Silveira continuava ministro, "por enquanto". No meio da tarde, Temer telefonou para Silveira para informá-lo que ele continuaria no cargo. Horas depois, contudo, Silveira telefonou para Temer e pediu para sair.

Na carta de demissão, Silveira repudia as tentativas de implicá-lo na Lava-Jato. "Não há em minhas palavras nenhuma oposição aos trabalhos do Ministério Público ou do Judiciário, instituições pelas quais tenho grande respeito. Foram comentários genéricos e simples opinião, decerto amplificados pelo clima de exasperação política que todos testemunhamos. Não sabia da presença de Sérgio Machado. Não fui chamado para reunião", afirmou.

Durante o dia, auxiliares de Temer afirmavam que a tendência era que Silveira continuasse no comando da pasta, por duas razões principais. Em primeiro lugar, porque Silveira é ligado a Renan e Temer não queria se indispor com o aliado, num momento em que o Senado ainda precisa confirmar o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, em julgamento programado para agosto. Além disso, Temer avaliara, mais cedo, que os diálogos implicando Silveira não teriam a mesma gravidade que os áudios que forçaram a saída de Jucá do primeiro escalão.

Num dos trechos divulgados pela TV Globo, Sérgio Machado afirma que o "Janot não sabe nada". Silveira concorda: "eles estão perdidos nesta questão", e depois diz que os procuradores não encontraram nada contra Renan. "Eles foram lá buscar o limão e saiu uma limonada", avalia. Silveira será substituido temporariamente por Carlos Higino, atual secretário-executivo.

Em nota oficial, Renan negou que tenha indicado Silveira para o ministério. "Em face das especulações, reitero de maneira pública e oficial que não irei indicar, sugerir, endossar, recomendar e nem mesmo opinar sobre a escolha de autoridades no governo do presidente Michel Temer. Independentemente de sermos do mesmo partido e das convergências em nome do Brasil, tive oportunidade de externar ao Senhor Presidente que a indicação de nomes é incompatível com a independência entre os Poderes ", afirmou. (Colaboraram Vandson Lima e Thiago Resende)

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