terça-feira, 24 de maio de 2016

Na Argentina, Serra enfrenta protesto e encontra Macri

• Manifestantes acusam ministro de ‘golpista’; tucano fala em ‘desinformação’

Janaína Figueiredo - O Globo

-BUENOS AIRES- Em sua primeira viagem ao exterior como ministro das Relações Exteriores, José Serra enfrentou ontem protestos nas ruas de Buenos Aires organizados por movimentos sociais kirchneristas e grupos de brasileiros que moram no país. Os cerca de 300 manifestantes o acusaram de “golpista”, em alusão ao afastamento de Dilma Rousseff, e conseguiram atrapalhar seus movimentos na capital argentina.

Eles esperaram Serra na porta da embaixada brasileira, na noite do último domingo, e ontem tumultuaram o encontro entre o ministro e a chanceler argentina, Susana Malcorra. Perguntado sobre os incidentes, que o obrigaram a entrar na sede do Ministério das Relações Exteriores argentino por uma garagem lateral, Serra afirmou que “não têm nenhum significado”.


Encontro com Macri
Depois de ter se reunido com a chanceler argentina, e ainda com a vice-presidente do país, Gabriela Michetti, o ministro da Fazenda, Alfonso Prat Gay, e o presidente Mauricio Macri, o ministro conversou com jornalistas de ambos os países, na residência do embaixador.

Jornalistas argentinos perguntaram sobre a legalidade do processo de impeachment, assunto que, de acordo com Serra, “não foi discutido” no encontro com as autoridades locais.

— Esse assunto não foi tratado em momento algum. Acho que existe uma onda de desinformação sobre o que aconteceu no Brasil, foi um processo traumático, mas absolutamente legal e constitucional. O país vive a mais perfeita normalidade democrática — respondeu Serra. — Nós esclarecemos quando nos perguntam. Não é um processo confortável, mas foi feito dentro da legalidade, com as regras definidas pelo Supremo Tribunal Federal. Basicamente existe, em muitos setores, desinformação. Em outros, exploração política.

Perguntado sobre o pedido de afastamento de Jucá e especulações sobre a possibilidade de assumir o cargo deixado pelo senador, o ministro negou essa possibilidade e afirmou: “Não há tal coisa”.

— O ministro… o senador Jucá vinha tendo excelente desempenho como ministro. Espero que ele possa resolver os problemas que o levaram a pedir licença e volte. Meu sincero desejo — disse Serra.

“Tarefa fascinante”
O ministro assegurou que pretende implantar o que propôs em seu discurso de posse no Itamaraty:

— É uma tarefa fascinante. Creio que estamos ganhando o apoio de todo o corpo de funcionários do Itamaraty, que é excepcional. E tem muita coisa para fazer.

Depois de destacar a importância do relacionamento entre Brasil e Argentina e de comunicar a criação de um mecanismo de consultas políticas permanente entre os dois países, Serra falou sobre a situação da Venezuela, questão que, segundo ele, “foi conversada” nos encontros com autoridades do governo de Mauricio Macri.

— Estamos atentos, temos interesse numa mediação, porque a Venezuela está numa situação crítica… Uma mediação que pode ter desde o Papa até o (ex-presidente espanhol) Zapatero. Várias tentativas têm sido feitas, devemos encontrar um caminho de conciliação — disse o chanceler.

Serra negou que o Itamaraty tenha elevado o tom de suas declarações em relação ao governo do presidente Nicolás Maduro e outros países do chamado grupo dos bolivarianos, que não reconhecem a legalidade do governo interino de Michel Temer.

— Se somos atacados, nós respondemos, num tom até menor. Nossa política é nem calar, nem escalar — enfatizou o ministro, que confirmou a intenção do presidente interino brasileiro de visitar a Argentina, como seu primeiro destino internacional.

No entanto, admitiu Serra, “a conjuntura política e econômica torna praticamente inviável uma viagem (de Temer) neste momento”.

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