segunda-feira, 30 de maio de 2016

O crescimento voltará no fim do ano - José Roberto Mendonça de Barros*

- O Estado de S. Paulo

Sob a firme gerência da presidente Dilma, o País despencava em queda livre. Saberemos logo os resultados oficiais do PIB do primeiro trimestre, mas a estimativa da MB Associados é uma contração de 6,7% em relação ao mesmo período de 2015. O segundo trimestre, certamente, ainda mostrará recuo (-5,1%), até porque muitas empresas deixarão de funcionar ou irão para a recuperação judicial nas próximas semanas, dada sua precária situação financeira.

Entretanto, teremos uma estabilização da economia no segundo semestre do ano e um crescimento em 2017, que projetamos na faixa de 2% ou algo mais. Todos os segmentos produtivos já operarão na faixa positiva. A razão maior desta reviravolta está na mudança de governo, que deverá ser confirmada no Senado até agosto próximo.


Apesar de alguns tropeços iniciais, creio que o presidente Temer vai se consolidar, especialmente por se colocar como um governo de transição, que irá enfrentar o descontrole da economia e preparar o campo para que o eleito em 2018 possa completar a retomada do crescimento. Para tanto, será também preciso entender que a vasta maioria da sociedade já está farta da corrupção sistêmica, apoia a Operação Lava Jato e não irá aceitar muitas manifestações da velha política. Tudo terá de ser feito para demonstrar que poderemos construir uma nova governança para o País. Isso também vale para as empresas. Deixaremos o tema para nosso próximo artigo neste espaço.

Além disso, montou-se uma boa equipe no Ministério da Fazenda, bons nomes nas presidências do Banco Central, BNDES e Petrobrás, além de nova liderança no Itamaraty. Esse grupo deverá avançar no ajuste fiscal, iniciar reformas (algumas, não todas), licitar novas concessões, avançar na política comercial externa e buscar reduzir, em alguma medida, o custo de fazer negócios no País, de sorte a elevar produtividade e a competitividade.

Não tenho dúvida de que esses acontecimentos levarão a uma expressiva melhora nas expectativas de cidadãos, consumidores e produtores, como já registrado em alguns desses indicadores. Esta é a primeira razão para reencontrarmos a volta do crescimento.

A segunda razão para esta retomada é que o setor do agronegócio continua “bombando”. Em meio ao tumulto internacional, é cada dia mais claro que a China resolveu elevar suas importações de alimentos de forma significativa. Não temos tempo para elaborar isso com mais cuidado, mas todo mundo sabe que o grande objetivo do atual governo é promover a expansão do mercado interno chinês. Ora, lá, os preços domésticos de alimentos são relativamente caros, dado o nível médio de renda (por exemplo, o milho custa mais que o dobro do preço da Bolsa de Chicago).

Neste caso, maior importação de comida significa maior poder de compra dos salários em termos de bens industriais, reforçando o mercado interno. Não é mais apenas a soja, mas o milho, o açúcar e as carnes que estão em franca expansão de importações. Além disso, para garantir a originação das importações, os chineses estão investindo pesado na compra e expansão de “trading companies”, que vêm diretamente ao Brasil comprar produtos de interesse. É também por isso que os chineses estão comprando grandes companhias de insumos agrícolas, como o que ocorreu recentemente com a Syngenta. Projetamos um crescimento de 3,8% no PIB agrícola do ano que vem.

A terceira razão é que as exportações totais em quantidade (que é o que interessa quando se olha a redução da ociosidade) cresceram 18% nos quatro primeiros meses deste ano, em relação ao ano passado. Chamo atenção para a expansão dos produtos têxteis (27%), veículos (18%), máquinas e equipamentos (17%), entre outros.

Este movimento deverá se manter, uma vez que projetamos que o real continuará a ser cotado na faixa dos R$ 3,50 a R$ 3,60 por dólar.

O consumo também vai crescer ao longo do ano, especialmente, na área de duráveis. Isso porque as quedas fantásticas no período recente mostravam que o receio das pessoas era tão grande que todo mundo, inclusive os que têm dinheiro e crédito para consumir, estavam adiando sua decisão. Ora, na medida em que as expectativas melhoram e que a política econômica começa a avançar, alguns desses consumidores se sentirão confortáveis para realizar seu desejo, até porque é sabido que os grandes descontos existentes hoje na compra de apartamentos e veículos tendem a desaparecer, se a recuperação por nós esperada se consolidar.

Logicamente, não estamos falando da volta do consumo ao seu normal, mas apenas do caminho na direção de uma certa normalidade.

Uma razão fundamental para dar suporte a esses movimentos é a expectativa de uma significativa queda na taxa de juros. A maior parte dos analistas projeta, como a MB, uma inflação na casa de 7% para este ano e de 5% a 5,5% no ano que vem.

Neste cenário, é perfeitamente razoável esperar que o Banco Central sinalize o ciclo de baixa a partir de julho, de sorte que, até o início do ano que vem, poderíamos ver uma queda de 300 pontos da taxa Selic. Com uma inflação esperada de 5,5% no próximo ano, seria possível esperar uma rodada adicional de queda nos juros em 2017, que, a nosso juízo, poderia ser de outros 200 pontos. Faz todo sentido colocar a taxa do Banco Central abaixo da taxa neutra para auxiliar na saída da recessão.

Desde que um ajuste fiscal avance, o crescimento voltará, ainda que modesto.

O que ainda não está garantido é a sustentabilidade, que dependerá ainda de reformas, reconstrução institucional e da redução permanente do custo de fazer negócios no Brasil. Neste momento, a maior produtividade poderá permitir nosso avanço sustentado.
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*José Roberto Mendonça de Barros é economista e sócio da MB Associados.

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