terça-feira, 17 de maio de 2016

Temer troca comando de BNDES, Petrobras e BB

• Maria Silvia Bastos Marques será presidente do banco de fomento

Petrolífera também terá nova liderança, e Pedro Parente, que foi ministro da Casa Civil de Fernando Henrique Cardoso, é cotado para o cargo. Gustavo do Vale, ex-Infraero, assumirá o Banco do Brasil

O presidente interino, Michel Temer, começou a mudar o comando dos principais bancos estatais. A economista Maria Silvia Bastos Marques, que foi presidente da CSN e da Empresa Olímpica Municipal, vai comandar o BNDES. Temer fora criticado pela ausência feminina em cargos de primeiro escalão. A escolha de Maria Silvia, primeira mulher na presidência do banco, agradou a empresários, que destacaram seu perfil técnico e a experiência nos setores público e privado. Temer também já decidiu trocar o comando da Petrobras, e o mais cotado para o cargo é Pedro Parente, que foi ministro da Casa Civil no governo Fernando Henrique. Para a presidência do Banco do Brasil, com o aval do ministro Henrique Meirelles (Fazenda), o escolhido é Gustavo do Vale, atual presidente da Infraero. O nome de consenso para a Caixa Econômica Federal é Gilberto Occhi, ex-ministro da Integração e das Cidades. –

Pioneira à frente do BNDES

• Maria Silvia Bastos Marques, primeira mulher a presidir a CSN, assumirá banco de fomento

Catarina Alencastro, Júnia Gama, Martha Beck, Glauce Cavalcanti, Bruno Rosa e Roberta Scrivano - O Globo


BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- A economista Maria Silvia Bastos Marques será a nova presidente do BNDES, uma das maiores instituições de fomento do mundo. A escolha foi confirmada ontem pelo gabinete do presidente interino, Michel Temer, que desde a semana passada está sob forte crítica pela ausência feminina em seu primeiro escalão. Maria Silvia, que substituirá Luciano Coutinho, será a primeira mulher a comandar a instituição. Seu nome agradou a empresários, principais clientes do banco, por sua ampla experiência nos setores público e privado. Maria Silvia conversou ontem com Temer e os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Romero Jucá.

Aos 59 anos, mãe de uma casal de gêmeos de 19 anos, Maria Silvia está acostumada ao papel de pioneira. Foi a primeira mulher a integrar a diretoria do próprio BNDES — cuidou das áreas Financeira e Internacional e de Planejamento, nos anos 1990 —, a dirigir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a comandar as Finanças da cidade do Rio, durante a gestão do exprefeito Cesar Maia.

Ela também presidiu a Icatu Seguros e a Empresa Olímpica Municipal, órgão da prefeitura do Rio que coordena e executa os projetos e as atividades relacionados aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Ela assumiu a presidência do órgão em 2014 e passou a atuar como assessora especial das Olimpíadas junto à prefeitura. Na semana passada, deixou a função.

Formada em administração pública e com mestrado e doutorado em Economia, Maria Silvia ganhou o respeito do mercado por entregar resultados sólidos de caixa. Fez isso na secretaria de Fazenda do Rio, entre 1993 e 1996. No lado privado, alavancou o faturamento da CSN, período durante o qual foi considerada umas das executivas mais influentes do mundo.

Empresários elogiam escolha
Colocar finanças no azul é habilidade importante em um momento em que o país enfrenta os desafios da recessão econômica, e o BNDES, principal fonte de financiamento da infraestrutura nacional, tem capacidade limitada de levantar novos recursos.

O banco, apesar de ter registrado lucro de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre deste ano, viu seu braço de investimento, o BNDESPar, amargar prejuízo de R$ 1,8 bilhão no período, ante perda de R$ 900 milhões em igual período do ano passado. O desempenho foi efeito direto do resultado das baixas contábeis na Petrobras, de R$ 2,6 bilhões.

Outra contribuição esperada de Maria Silvia é aos programas de concessão e venda de ativos de empresas públicas, parte importante do projeto econômico de Michel Temer. Ela já trabalhou com o tema em profundidade, quando era assessora especial para Assuntos de Desestatização do BNDES. Só a BNDESPar, tem em carteira R$ 44,5 bilhões em 116 empresas de diversos setores.

— É um convite para botar alguém competente, experiente e que tem toda condição de fazer um bom trabalho no BNDES. Portanto, o presidente Michel (Temer) entendeu de convidá-la. Eu acho uma ótima escolha — disse Romero Jucá.

Alberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), considerou a escolha de Maria Silvia para o BNDES “excelente”. Ele salientou a importância do banco para o setor industrial e para a reativação do fluxo de investimentos.

— É uma pessoa com experiência e que já mostrou competência em suas atuações anteriores. Certamente, foi uma escolha acertada. Ela conhece o setor empresarial e saberá conduzir bem esse órgão que é tão importante para o empresariado — disse.

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também elogiou:

— A Maria Silvia é uma pessoa séria e sem dúvida prestará um bom serviço ao Brasil.

José Carlos Rodrigues Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), considerou positiva a mudança no comando do BNDES. Segundo ele, Maria Silvia já conhece o funcionamento do banco, além de ter experiência nos setores público e privado, bem como em conselhos de administração de diversas empresas, como Petrobras, Vale, Souza Cruz e Estácio Participações.

— Novos investimentos demandam mais credibilidade. E Maria Silvia pode trazer essa confiança. Foi uma escolha inteligente, pois ela conhece o setor privado, o setor público e sabe como o banco funciona. Mas, claro, há desafios neste momento, como colocar de pé um modelo de financiamento que não fique restrito a poucas empresas. É preciso uma mudança de modelo que atenda a mais companhias e democratize o acesso a recursos — destacou Martins.

Em nota, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) disse que a escolha representa “mais um grande acerto na formação da equipe do novo governo”. Ao destacar sua trajetória, como a atuação no setor privado ao longo dos anos 1990, a entidade lembrou a experiência da economista com privatizações. “E a venda de ativos públicos é uma iniciativa essencial dentro de uma nova política para a questão fiscal, como alternativa ao aumento de impostos, que permite a geração de receita de forma mais rápida e contribui para reduzir o desequilíbrio das contas públicas”, destacou a Firjan.

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