quarta-feira, 29 de junho de 2016

Brexit torna urgente reformas econômicas de Temer – Editorial / O Globo

• País precisa ajustar sua economia para se defender dos efeitos da saída dos britânicos da UE. Para isso, é preciso acelerar a aprovação de medidas no Congresso

Com a decisão histórica dos britânicos de abandonar a União Europeia — o chamado Brexit —, na quinta-feira passada, o mundo mergulhou numa era de incertezas. A desestruturação caótica da representação política convencional no Parlamento britânico e o caos nos mercados financeiros globais desde o plebiscito são exemplares. As autoridades monetárias conseguiram conter os efeitos negativos a curto prazo, mas os desafios que se avolumam adiante são preocupantes. Por isso, o mundo acompanhava apreensivo ontem a reunião dos líderes dos 27 países do bloco europeu com o premier David Cameron, à espera de um roteiro mais claro da saída britânica da UE.


No mercado financeiro, que opera com uma lógica própria, a indefinição gerada pelo Brexit mudou a percepção de risco, e muitos fundos estão voltando a apostar em países emergentes, como Brasil, Rússia, México, Índia, China e Argentina. Segundo a agência Bloomberg, os índices de volatilidade de 30 dias saltaram, após o Brexit, em EUA, UE e Reino Unido, que teve ainda sua nota de dívida soberana rebaixada por duas importantes agências de risco. O efeito nos mercados emergentes, porém, foi bastante limitado.

O Brasil, que tem hoje um governo interino comprometido com a correção dos rumos da economia, pode se beneficiar desse movimento inesperado entre os investidores internacionais. Além disso, a equipe econômica precisa se preparar para os choques negativos do Brexit na economia global a médio e longo prazos.

O cenário, portanto, impõe ao governo de Michel Temer redobrar os esforços de reequilíbrio fiscal já anunciados por seu time econômico. Diante dos acontecimentos, toda iniciativa necessária para evitar um desvio de rota da restauração da economia tornou-se crucial. Isto exigirá do presidente interino firmeza e habilidade política para aprovar no Congresso as medidas necessárias para estimular a economia de forma sustentável, o que inclui a aplicação de reformas estruturais inadiáveis para que o Brasil saia da crise e retome o caminho do crescimento.

É essencial, por exemplo, que o presidente não vacile na sanção da lei de responsabilidade das estatais; na venda de ativos de empresas públicas, como Petrobras e Eletrobras; e na nova legislação para regular os fundos de pensão, que está na pauta do Congresso esta semana. Simultaneamente é preciso avançar com maior celeridade em medidas de ajuste fiscal e adequar o Orçamento federal ao limite das receitas, o que inclui a imposição de um teto para os gastos públicos pela inflação passada, estendendo o mesmo compromisso aos governos estaduais e municipais.

Temer tem uma oportunidade única, não aproveitá-la seria um erro trágico. Para todos.

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