terça-feira, 7 de junho de 2016

Cenário melhor - Míriam Leitão

- O Globo

Economistas começam a prever uma queda forte dos juros a partir de agosto, diante dos vários sinais de melhora nas expectativas. Bancos e consultorias estão reduzindo a projeção de recessão deste ano e elevando o crescimento de 2017. José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, está prevendo um crescimento para o PIB do ano que vem entre 2% e 2,5%.

No Focus de ontem, a previsão de inflação subiu um pouco, pelo efeito dos preços agrícolas. Segundo Mendonça de Barros, é temporário. O mesmo fenômeno que eleva ligeiramente as previsões de inflação, para 7,2%, está por trás da recuperação: subiram fortemente os preços internacionais de açúcar, soja, milho e carnes. Isso eleva a exportação de produtos agrícolas:


—A demanda chinesa voltou a crescer na área de alimentos, porque eles decidiram ampliar as importações. E até carne vermelha, que não faz muito parte dos hábitos dos chineses, eles estão importando um milhão de toneladas.

Mendonça de Barros, cuja consultoria acertou ao prever há muito tempo o cenário de ruptura no governo Dilma, acha que a conjuntura continua sendo de muita incerteza, mas diz que são muitos os sinais de melhora nas expectativas, como a elevação dos indicadores de confiança dos empresários e consumidores. Além disso, as exportações estão subindo em volume. Ele reduziu sua projeção de recessão de 2016, de 4,1% para 3,3%. E elevou o crescimento do ano que vem, para 2% a 2,5%, um dos níveis mais altos do mercado.

Na reunião do Copom que começa hoje, a última a ser presidida por Alexandre Tombini, as taxas devem permanecer estáveis. Mas Mendonça de Barros acha que até o fim do ano podem cair dois pontos percentuais, e que no ano que vem pode continuar em queda, um ciclo total de cinco pontos de redução até o fim de 2017:

— Tudo depende de que o governo Michel Temer consiga conduzir algumas medidas de ajuste fiscal. Uma das vantagens do momento atual é que o Brasil saiu da situação em que estava, com a economia em queda livre. Depois, começará a recuperação. A nova equipe econômica é sólida.

O economista-chefe para América Latina do Banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, tem um cenário benigno para a inflação nos próximos meses. Por isso, espera que o BC comece um longo ciclo de cortes nas taxas de juros a partir de agosto. Pela sua projeção, a Selic, hoje em 14,25%, cairia para 13% em dezembro e chegaria a 9% no final de 2017.

— Há uma recessão muito forte, com efeito principalmente sobre a inflação de serviços, o dólar passou a ajudar nos últimos meses, com uma taxa menor do que chegou a ser projetada pelo mercado, e houve um ganho muito forte de credibilidade, com a troca da política econômica. As projeções voltaram a ficar “ancoradas” no longo prazo, e isso é uma grande diferença — explicou.

O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, tem uma visão mais pessimista sobre o cenário dos preços. Ele ainda enxerga uma resistência muito grande da inflação de serviços, que só começou a cair no início deste ano. Camargo prevê uma inflação na casa de 7,5% a 8% em 2016.

— A alta dos preços da energia e de outros serviços públicos saiu da conta, e a inflação caiu de 11% para 8% este ano. A alta dos juros não derrubou a inflação, apenas impediu que houvesse um contágio dos preços administrados para os preços livres. Se o BC quiser levar a inflação à meta em 2017, está com pouco espaço para cortar a Selic — explicou.

O tom muda, dependendo do economista, mas os cenários começam a ficar mais favoráveis. Só a definição política, contudo, ajudará a consolidar essa nova esperança de melhora na economia.

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