quarta-feira, 22 de junho de 2016

Cunha afirma que 'não tem o que delatar' e volta a descartar renúncia

Débora Álvares, Ranier Bragon, Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta terça-feira (21) que não tem "o que delatar". "Não tenho crime praticado", concluiu.

O peemedebista ainda disse que não pretende renunciar ao cargo de presidente da Câmara. "Como vocês viram, eu não renunciei", ironizou. O deputado convocou uma entrevista coletiva para rebater acusações e atacar adversários, como a presidente afastada Dilma Rousseff e ex-integrantes do governo petista.

Ele ainda fez uma espécie de defesa de seus recursos à Justiça e disse que o processo movido contra ele no Conselho de Ética da Câmara está marcado por uma série de "nulidades".

Cunha falou por mais de uma hora e vinte minutos em um hotel na região central de Brasília. O deputado afastado afirmou que arcou pessoalmente com os custos de aluguel do espaço e que apareceu sozinho diante da imprensa por opção pessoal.

Ele traçou um detalhado retrospecto de como ocorreu o rompimento de seu partido com o PT de Dilma, que culminou com a abertura do processo de impeachment da presidente afastada. Cunha é considerado um dos personagens principais do afastamento da petista do cargo. Foi ele que, em dezembro do ano passado, deu andamento ao processo.


Nesse trecho da fala, acusou o ex-ministro da Casa Civil de Dilma, Jaques Wagner, de ter lhe dito pessoalmente em ao menos três ocasiões que poderia influenciar deputados do PT e o próprio presidente do Conselho de Ética a favor de Cunha caso ele enterrasse os pedidos de impeachment.

Segundo Cunha, os encontros com Wagner se deram na residência oficial da presidência da Câmara, na Base Aérea de Brasília e no Palácio do Jaburu, a pedido do hoje presidente interino da República, Michel Temer (PMDB). Cunha disse, porém, que Temer não participou da conversa e que inclusive saiu para outro compromisso para não testemunhar o encontro.

Questionado sobre por qual motivo não relatou os encontros com Wagner à época, Cunha disse que "refutou" e "ignorou" as iniciativas. "O problemas é que quando você denuncia esse tipo de coisa está sujeito a comprovação, entre duas pessoas que estiveram sozinhas. Hoje, reúno testemunhas e saberei provar".

Em manifestações anteriores Jaques Wagner já negou ter tentado fechar barganha com Cunha e disse que era o peemedebista que tentava chantagear o governo. O ex-ministro disse que o peemedebista mente.

"Mais uma vez Eduardo Cunha mente para se fazer de vitima. Ocorreram encontros para tratar da relação do Executivo com o Legislativo e da pauta de votações. Nunca houve oferecimento de apoio do PT a Cunha nem nunca haverá."

"No dia do anúncio [do impeachment], ele [Wagner] tentou desesperadamente que eu atendesse seu telefonema. Vários deputados traziam pra mim o telefone com ele na linha e podem ser testemunha", disse Cunha.

O deputado disse inclusive que Wagner prometeu a ele controle do presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA), que é ligado ao PT no Estado. Wagner governou a Bahia por duas gestões.

"O ministro ofereceu o próprio controle do presidente do Conselho de Ética, ele disse que tinha o controle total do presidente do Conselho."

Cunha chegou a afirmar que se tornou alvo de uma série de ameaças, "ameaças de morte" desde que aceitou o pedido de afastamento da petista, e que optou por não tornar esses episódios públicos. "Só não faço drama em cima disso", disse.

O peemedebista chegou a ironizar a um pequeno protesto que ocorreu do lado de fora do hotel em que falava, dizendo que se tratava de uma prova das agressões que vinha sofrendo por parte de pessoas que "perderam a boquinha" nos governos do PT".

Seletividade
Cunha também desferiu uma série de ataques ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem acusou de agir com seletividade. "Quantos petistas estão denunciados?", indagou Cunha. "Ele age com seletividade e só se concentra no que lhe interessa", disse Cunha.

Em 17 de abril, o processo contra Dilma foi votado na Câmara, depois de três dias seguidos de sessão. Ao longo da coletiva à imprensa, Cunha destacou a sessão como histórica, a mais longa do Congresso.

O deputado chegou ao Hotel Nacional, na região central de Brasília, dois minutos antes do marcado para a entrevista desta manhã. Sozinho, sentou-se à mesa com seis lugares. Pediu paciência aos jornalistas. Disse que não fala desde que prestou depoimento ao Conselho de Ética, em 19 de maio. "Político e microfone...".

Com pouco mais de meia hora de coletiva, chegaram dois deputados do PMDB de Minas, o ex-ministro de Dilma Mauro Lopes e também Saraiva Felipe.

Do lado de fora do hotel, um grupo pequeno de manifestantes faz barulho enquanto Cunha fala. Com vuvuzelas e cartazes protestam contra o peemedebista, que ainda fala.

Nos últimos dias, o peemedebista recebeu congressistas próximos na residência oficial para ajustar os termos da sua entrevista. Cobrou apoio do governo Temer a ele. Foi aconselhado a renunciar. Não respondeu.

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