quarta-feira, 15 de junho de 2016

Derrota de Cunha precisa recolocar Câmara nos eixos – Editorial / O Globo

• A aceitação de processo de cassação representa mais um baque para o político, contra quem tramitam ações na Justiça, e até pedido de prisão

Na mais longa tramitação de um pedido de impeachment no Conselho de Ética da Câmara, oito meses, o deputado e presidente da Casa, de mandato suspenso, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começa mesmo a sair de cena. Pode não ser para já, mas é inexorável, pelo volume de inquéritos, denúncias e até pedido de prisão que orbitam em torno de Cunha. Agora, ele começa a perder sustentação entre os próprios pares. Por 11 votos a nove — com a ajuda de Tia Eron (PRB-BA), até há pouco considerada voto certo de Cunha, e a surpreendente conversão de Wladimir Costa (SD-PA), liderado por Paulinho da Força (SD-SP) —, terminou aprovado o relatório de Marcos Rogério (DEM-RO) a favor da cassação do deputado suspenso.

O processo foi instaurado a pedido do PSOL depois que Eduardo Cunha, na condição de presidente da Casa, compareceu à CPI da Petrobras e negou ter contas no exterior, não declaradas ao Fisco.

Mentiu, como logo ficou provado pelas provas remetidas à Procuradoria-Geral da República pelo Ministério Público suíço.


Cunha, fiel a um estilo, continuou a negar e passou a manobrar cada vez mais, com os poderes de comandar a Mesa da Casa, para garantir uma composição no Conselho de Ética que lhe fosse favorável na votação final. As manobras chegaram a tal ponto que o MP federal pediu, e o Supremo concordou, que o deputado tivesse o mandato suspenso, uma decisão carregada de ineditismo, por tangenciar a fronteira de um outro poder, o Legislativo. Cunha, porém, não parava de ultrapassar limites.

A derrota no Conselho deverá levá-lo a recorrer à Comissão de Constituição e Justiça. Argumentos, ele sempre tem alguns. E chegando o processo de impeachment ao plenário, onde a votação também será aberta, são escassas as chances de ele escapar. Eduardo Cunha se candidata a ser um dos símbolos da enorme faxina que a Operação Lava-Jato tem feito na vida pública do país — não apenas no ramo político-partidário, mas também no empresarial. Um processo histórico de fortalecimento das instituições de fato republicanas, mais visível a partir do mensalão, no primeiro mandato de Lula. Cunha está a caminho de vir a ser lembrado junto a outros poderosos obrigados a ser curvar à Lei, como Lula, Dirceu, Genoino, Marcelo Odebrecht etc.

O mau momento do político do PMDB fluminense se tornará pior ainda, se e quando ele for cassado. Sem a prerrogativa de ser investigado e julgado pelo Supremo, Cunha fará companhia à mulher, Cláudia Cruz, na primeira instância. Ela acaba de ser declarada ré pelo juiz Sérgio Moro, um dos vértices da Operação Lava-Jato, em Curitiba, por se beneficiar de milhares de dólares das contas as quais Cunha diz não existir.

O dia de ontem passa a ter destaque na já longa história da repressão ao crime de colarinho branco no país. A torcida é para que também marque o início de uma regeneração na Câmara.

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