domingo, 19 de junho de 2016

Lava Jato não conseguirá transformar o Brasil sozinha, diz procurador

• Deltan Dallagnol participa do Brazil Forum 2016, evento organizado por alunos da Universidade de Oxford e da London School of Economics

Fernando Nakagawa - O Estado de S. Paulo

OXFORD - O procurador da República e coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato Deltan Dallagnol não demonstra surpresa com as iniciativas para tentar atrapalhar os trabalhos de investigação . "Onde quer que exista atuação forte do sistema de Justiça contra o sistema falho e que beneficia pessoas, haverá reação", disse após palestra na Universidade de Oxford.

Ao ser questionado sobre a ação de "poderosos" contra a atuação dos procuradores que investigam a corrupção em Curitiba, Dallagnol disse que essa não é uma reação incomum. "Na Itália, foi assim", disse, ao comentar o desdobramento da operação Mãos Limpas. "A grande questão é saber da sociedade brasileira aonde queremos ir.

Vamos permitir que esse sistema seja mantido ou nós queremos combate à corrupção? Essa é a grande questão", afirmou após palestra no Brazil Forum 2016, evento organizado por alunos da Universidade de Oxford e da London School of Economics.


Dallagnol reconhece que, além do engajamento popular, é preciso que autoridades também reajam. Ele citou como exemplo a necessidade de agilidade nos processos judiciais. "O risco de prescrição gera impunidade", disse. O procurador também sugere que sejam fechadas brechas e regras sejam alteradas para que punições aconteçam e sejam adequadas. Além disso, também recomenda instrumentos eficientes para recuperar o dinheiro desviado pela corrupção. "São três medidas preventivas para que a corrupção não aconteça".

Investigação. Durante a palestra, Dallagnol afirmou que o avanço da operação Lava Jato não será suficiente para transformar o Brasil. "A corrupção não é do partido A ou do B, um problema do governo A ou B", disse. O procurador perguntou à plateia quem acreditava que a investigação mudaria o País. No auditório de mais de 100 pessoas, praticamente todos levantaram a mão. Dallagnol disse que discordava do grupo especialmente porque a investigação sozinha não conseguirá alterar as estruturas que criam brechas para a corrupção. "Precisamos atuar sobre as condições que favorecem a o corrupção", disse.

O procurador comentou, ainda, que boa parte do sucesso da operação Lava Jato pode ser atribuído à percepção dos envolvidos de que haverá punição. "Sem punição, não haveria colaboração. Se a alternativa é impunidade, não vai fazer a colaboração. As pessoas passaram a acreditar que poderiam, como no mensalão no caso do Marcos Valério, ser punidas", disse o procurador. "Elas precisavam de alternativa e a solução negociada era melhor que a disputa processual. É o efeito Marcos Valério", diz.

Ao defender o instrumento da delação, Deltan Dallagnol rechaçou a ideia de que para combater a corrupção basta seguir o dinheiro. "A ideia de seguir o dinheiro é uma falácia porque você quebra o rastro do dinheiro", disse.

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