domingo, 5 de junho de 2016

O último a sair apaga a luz

• Lava-Jato pode provocar cenário de terra arrasada na política brasileira

Paulo Celso Pereira - O Globo

Se tiverem seu conteúdo comprovado, as delações em negociação neste momento com o Ministério Público Federal tendem a decretar o fim do sistema político brasileiro como o conhecemos. Os longos depoimentos de executivos de ambas as empreiteiras (OAS e Odebrechet) e suas consequentes operações deverão tomar os próximos meses, e a primeira pergunta que assombra hoje é: quais políticos conhecidos hoje passarão incólumes por elas? O quadro de 2018 será definido antes de mais nada pela sobrevivência.

Caso os empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro cumpram as promessas ventiladas até agora, os dois principais nomes dos partidos que polarizaram a disputa presidencial desde 94 — PT e PSDB — estarão fora do jogo. Independentemente de os empreiteiros entregarem documentos cabais que comprovem o que dizem, as manchas das acusações formais contra o ex-presidente Lula e Aécio Neves dificilmente permitirão que estes sigam na corrida presidencial.


Mas esse é apenas o problema mais imediato para petistas e tucanos. Sua crise pode ser muito mais profunda. Diante da ameaça de entregarem 13 governadores e 36 senadores — sabe-se lá quantos deputados e prefeitos —, é impossível saber neste momento se algo será dito contra os principais nomes alternativos dos dois partidos para 2018. Em suma: Jaques Wagner, Fenando Haddad, Geraldo Alckmin e José Serra chegarão vivos politicamente às próximas eleições?

Ex-governador da Bahia, terra das duas construtoras, Wagner era visto no PT como a alternativa mais óbvia a Lula. No entanto, já no início deste ano mensagens encontradas no celular de Léo Pinheiro mostravam que Wagner defendeu interesses da empreiteira. Agora, o empreiteiro pode detalhar a relação que mantinha com o ex-governador. O prefeito Fernando Haddad, por sua vez, é visto como a alternativa mais moderna dentro do PT, mas também já se tornou alvo da negociação de delação da mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, que afirma ter recebido recursos de caixa dois na campanha municipal dele de 2012.

Entre os tucanos, Alckmin e Serra revezam-se no comando do governo paulista desde 2001. No estado, Odebrecht e OAS foram responsáveis por algumas das mais marcantes obras das gestões tucanas, como o Rodoanel e as linhas de metrô. Até este momento, não veio a público qualquer informação dos empreiteiros sobre obras no estado.

No PMDB, que assim como em 1992 voltou ao Planalto em meio a um processo de impeachment, vários parlamentares já foram alvejados pelas investigações, e dois ministros caíram em menos de 20 dias de governo. Mas a preocupação central, naturalmente, é se Michel Temer, que preside a legenda há 15 anos, conseguirá se esgueirar entre as bombas que atingem dia após dia seu governo sem ser diretamente implicado?

O risco, como se vê pelo volume de perguntas que passou a assolar o meio político, é de um cenário de terra arrasada. As delações de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro podem, porém, deixar pela primeira vez a maioria dos brasileiros orfã. Como em política não existe espaço vazio, se isso ocorrer algo surgirá no lugar. Resta saber o quê. Ou quem.

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