sábado, 4 de junho de 2016

Odebrecht relatou gastos com Dilma

• Em negociação de delação, executivos da empreiteira disseram ter pagado cabeleireiro; presidente nega

Executivos da Odebrecht afirmaram, na negociação de delação premiada, que pagaram “despesas de imagem” da presidente afastada, Dilma Rousseff, entre as quais o cachê do cabeleireiro Celso Kamura, conta Guilherme Amado. Como revelou O GLOBO, a informação também consta de emails trocados por investigados e apreendidos pela Lava-Jato. Os executivos da Odebrecht, que ainda vão prestar depoimentos formais, disseram que os valores para tais gastos foram repassados ao marqueteiro João Santana, preso juntamente com a mulher dele, Mônica Moura. Dilma reagiu dizendo que as informações são “descabidas”. Funcionários da Odebrecht relataram também propina para Anderson Dornelles, ex-assessor de Dilma.

Executivos dizem que Odebrecht pagou despesas pessoais de Dilma

• Cabeleireiro afirma que João Santana, preso por caixa 2, pagou serviços

Guilherme Amado - O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Executivos da Odebrecht relataram na negociação de suas delações premiadas que a empreiteira pagou despesas pessoais da presidente afastada, Dilma Rousseff, que permitiram a ela cuidar da própria imagem. Entre as despesas está o cachê do cabeleireiro Celso Kamura, conforme revelado ontem pelo colunista do GLOBO Merval Pereira. Investigadores da Lava Jato tratam com cautela a informação, porque não há certeza de que a construtora vai incluir ou detalhar a informação nas próximas fases do processo de colaboração.

Na negociação, os diretores da Odebrecht afirmaram que valores relacionados à imagem da presidente foram repassados ao marqueteiro João Santana, que se responsabilizou pelo pagamento dos profissionais e serviços contratados. Mônica Moura, mulher de João Santana, já afirmou nas negociações de sua delação premiada que o casal recebeu pagamentos da Odebrecht por caixa dois (recursos não contabilizados pela campanha).


Para integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, no entanto, mesmo que a Odebrecht inclua a informação nas próximas fases da delação, serão necessários mais elementos para que seja possível abrir inquérito para investigar o favorecimento pessoal de Dilma.

Uma das possibilidades cogitadas é a delação de João Santana e de Mônica Moura. Caso os dois confirmem o caso ou surjam novos documentos que comprovem o que foi dito pela Odebrecht, a investigação poderá avançar.

— Criminalmente, é necessário que haja mais elementos para que seja aberto um inquérito — explicou um investigador com acesso à negociação com a Odebrecht.

Atualmente, os cerca de 50 executivos da Odebrecht que se propuseram a fazer a delação estão na fase de negociação. A próxima etapa será a entrega dos anexos da colaboração, quando é feita uma síntese de cada um dos pontos prometidos na negociação. Só depois disso são colhidos os depoimentos, para que a delação seja homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Kamura divulga nota
Em São Paulo, o cabeleireiro Celso Kamura informou ontem, por nota, que os serviços prestados a Dilma Rousseff eram pagos pela própria presidente e pela agência Pólis, de propriedade de João Santana, responsável pelas campanhas de Dilma em 2010 e 2014 e preso pela Lava-Jato. O marqueteiro e a mulher dele, Mônica Moura, respondem a processo por corrupção e lavagem de dinheiro por terem recebido dinheiro da Odebrecht dentro e fora do país.

Segundo a nota de Kamura, os “deslocamentos e atendimentos de corte e coloração prestados à presidente afastada Dilma Rousseff, mensalmente ou bimestralmente, foram contratados e pagos pessoalmente por ela”. Quando os serviços tinham o objetivo de preparar Dilma para pronunciamentos oficiais e campanhas eleitorais, cabia à empresa de Santana pagar pelo serviço e por passagens e hospedagem, de acordo com o cabeleireiro.

Ontem, o colunista Merval Pereira informou que cada ida do cabeleireiro ao Planalto custava R$ 5 mil. “O valor cobrado para cada trabalho realizado foi muito inferior ao citado nas referidas notícias”, afirmou Kamura, em nota.

Pessoas próximas ao cabeleireiro contam que ele cobrava R$ 1 mil da presidente pelo corte e pelo tingimento do cabelo quando a atendia em caráter pessoal. Dilma pagava em dinheiro ou cheque pessoal. Os valores cobrados eram maiores quando Kamura viajava para atendê-la em campanhas ou pronunciamentos.

Na nota, o cabeleireiro acrescentou que “foram emitidas notas fiscais para todos esses trabalhos (prestados para empresas de Santana), devidamente declaradas ao Fisco, estando totalmente de acordo com a legislação brasileira”. “Celso Kamura sempre se pautou pela transparência e clareza em toda a sua trajetória profissional”, concluiu a nota.

Em Brasília, políticos de oposição a Dilma afirmaram que os pagamentos a Celso Kamura com recursos desviados da Petrobras mostram um vínculo direto dela com o esquema de corrupção.

— É uma vinculação direta. Não tem nada mais direto do que gasto de ordem pessoal. Não é possível que ela vá alegar que não sabe quem pagou o cabeleireiro — afirmou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).

A senadora Ana Amélia (PP-RS) avalia que a informação poderá influenciar votos na Casa pelo afastamento definitivo de Dilma. Ela acredita que novos dados poderão surgir.

— Isso revela que vamos certamente chegar cada vez mais perto. Espero que a Lava-Jato mostre tudo que ocorreu, e claro que isso terá influência sobre o julgamento aqui no Senado — afirmou Ana Amélia.

O senador petista Lindbergh Farias (RJ), por sua vez, disse acreditar que a informação é falsa, e que será preciso apresentar provas da informação.

— Tenho certeza de que isso é mentira. Quero ver se tem alguma prova. A presidente Dilma é uma pessoa honrada que foi afastada por uma quadrilha parlamentar — afirmou.

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