sexta-feira, 10 de junho de 2016

Otimismo incipiente – Editorial / Folha de S. Paulo

Apesar das incertezas políticas, reforçadas nesta semana com o pedido de prisão de figurões do PMDB, crescem os sinais de mudança para melhor no ambiente econômico: indicadores de confiança e projeções para o PIB começam a subir, enquanto ativos brasileiros voltam a se valorizar.

Verdade que houve ajuda de fatores externos. O principal deles surgiu na semana passada, com o novo adiamento da perspectiva de aumentos de juros nos Estados Unidos. Com isso, recursos que entrariam naquele país são direcionados para nações emergentes.

Além disso, a forte alta nas cotações de matérias-primas, como petróleo e alimentos em geral, contribui para reduzir o pessimismo com países exportadores de commodities, como o Brasil.

A esses vetores acrescenta-se a expectativa positiva suscitada pela consolidação de uma equipe econômica ortodoxa, ciente de que o ajuste das contas públicas precisa figurar entre as prioridades do governo de Michel Temer (PMDB).


Tudo somado, o mercado internacional voltou a financiar empresas brasileiras. Após meses de paralisia, a Petrobras liderou o movimento, com a captação de US$ 6,75 bilhões, um montante que deverá ser usado sobretudo para estender o prazo médio de sua dívida.

Também evidencia o novo ânimo a valorização do real nos últimos dias. O fato de a moeda brasileira ter atingido o patamar mais elevado em quase um ano inspira cuidados, porém. Se por um lado favorece a redução da inflação, pelo barateamento de produtos importados, por outro reduz a rentabilidade das exportações –hoje uma das poucas áreas que têm crescido.

A taxa de câmbio não é o único elemento a influenciar a competitividade internacional, mas seria prejudicial uma apreciação rápida e excessiva –tendência estimulada pelo juro alto (que atrai recursos especulativos e valoriza o real).

É preciso, pois, assegurar condições para uma redução substancial da Selic, a taxa básica da economia. Diversos fatores apontam para juros mais baixos: a inflação aos poucos dá sinais de arrefecimento, o crédito está contraído, os salários não sobem ou até diminuem, o desemprego atinge níveis bastante elevados.

São, por assim dizer, resultados quase automáticos da forte recessão que o Brasil enfrenta. De parte do governo, a iniciativa fundamental reside na demonstração de que conseguirá manter sob controle a trajetória da dívida pública.

Para isso, não bastarão anúncios ainda vagos sobre a fixação de teto para o crescimento dos gastos públicos. É preciso não só propor medidas concretas para regulamentá-lo como aprová-las no Congresso. Sem isso, o otimismo incipiente pode se revelar efêmero.

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