quinta-feira, 23 de junho de 2016

Planalto já articula sucessão na Câmara

• Governo Temer atua para garantir candidatura única ao comando da Casa, caso Cunha renuncie; líderes partidários aceitam interferência

Igor Gadelha, Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto começou a se envolver na disputa da sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados para tentar garantir um candidato único da base. O governo teme que um racha entre os aliados para a disputa prejudique a governabilidade na Casa e votações de seu interesse. Nesta semana, foram aprovados projetos considerados importantes pela equipe do presidente em exercício Michel Temer.

O envolvimento do Planalto tem se dado por meio do líder do governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE). O parlamentar foi escalado para convencer lideranças do PMDB, da antiga oposição (DEM, PSDB, PPS e PSB) e do Centrão (grupo de 13 siglas liderados por PP, PSD, PR e PTB) a se unir e apoiar um candidato único para a disputa do mandato “tampão”, que vai até fevereiro de 2017. Principal sustentação de Temer na Câmara, os três grupos articulam candidaturas separadas, o que já tem gerado atrito.


Moura começou a conversar com aliados nesta semana. Anteontem, se reuniu com líderes do Centrão e da antiga oposição. Em suas contas, pelo menos 13 deputados da base demonstram interesse na disputa. Da antiga oposição: Julio Delgado (PSB-MG), Hugo Leal (PSB-RJ), Heráclito Fortes (PSB-PI), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Antonio Imbassahy (PSDB-BA).

Já do Centrão, os nomes são os de Esperidião Amin (PP-SC), Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO), Fernando Giacobo (PR-PR), 2.º vice-presidente da Câmara, e Beto Mansur (PRB-SP), 1.º secretário da Casa. Há ainda os deputados Sérgio Souza e Osmar Serraglio, ambos do PMDB do Paraná. Os peemedebistas defendem que, pela regra da proporcionalidade, o cargo de Cunha cabe ao partido, dono da maior bancada, com 66 deputados.

Nas primeiras conversas que teve, o líder do governo encontrou resistência. Antiga oposição, Centrão e PMDB têm se mostrado irredutíveis e querem lançar candidatos próprios. Caso o racha continue, Moura já admitiu a interlocutores que a cúpula do Planalto poderá interferir diretamente nas articulações, no futuro, para tentar garantir o consenso em torno de um candidato da base.

Contradição. A articulação do Planalto vai de encontro ao discurso oficial do governo de que não pretende se envolver na disputa pela sucessão de Cunha. Sempre que questionados, ministros e Temer têm se esquivado de tratar abertamente do tema. Argumentam que esse é um assunto interno da Câmara e não cabe ao governo interferir. Interlocutores do presidente têm fugido das discussões públicas sobre o assunto, enquanto Cunha não renunciar ou não ter o mandato cassado.

Mesmo com a ofensiva do Planalto, líderes do Centrão continuam defendendo que o grupo tem preferência para indicar o candidato da base. “Caso ocorra eleição, é óbvio que o Centrão vai ter prevalência”, diz o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). O grupo tem cerca de 220 deputados. Próximo de Cunha, Arantes dá como certa a vacância da presidência. “Em algum momento, ele (Cunha) vai renunciar”, afirma.

Cientes do racha, líderes do Centrão já dizem aceitar a interferência do Planalto. “Não pode ter vários candidatos. Temos de ter unidade, se não vamos ter problemas”, diz o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB). Para o líder do PR, Aelton Freitas (MG), a ação do governo será “natural”.

A antiga oposição se diz contra a articulação de Temer. “Esse é um assunto interno, ele não deve se meter”, diz o líder do PSB na Câmara, Paulo Foletto (ES). Segundo ele, a antiga oposição deve permanecer unida. Com 119 deputados, o grupo discute com atuais opositores de Temer (PT, PC do B, PDT e Rede) a possibilidade de lançar um candidato em conjunto.

Nesse cenário, os próprios ministros que integram o núcleo político do governo consideram, nos bastidores, que dificilmente a base aliada chegará a um consenso para ter candidatura única. Na avaliação de um ministro de um partido do Centrão, a disputa não será “fratricida” e uma recomposição em um possível segundo turno deverá acontecer.

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