segunda-feira, 20 de junho de 2016

Romário lança candidatura e prejudica Paes

Por Cristian Klein – Valor Econômico

RIO - Numa reviravolta na eleição a prefeito do Rio, o senador e ex-jogador de futebol Romário (PSB), lançará hoje, na sede estadual do partido, sua pré-candidatura ao cargo. A entrada de Romário muda substancialmente o cenário da sucessão do prefeito Eduardo Paes (PMDB). Pelas pesquisas, a disputa vinha sendo liderada pelo também senador Marcelo Crivella (PRB), cujo partido é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Entre os próprios adversários, a previsão é que a presença de Crivella num provável segundo turno é praticamente certa, restando aos demais a briga pela outra vaga.

Com o lançamento de Romário, essa segunda vaga ganha um forte concorrente. No levantamento mais recente, realizado entre 9 e 12 de maio, pelo instituto Paraná Pesquisas, Crivella tinha 31,2% e Romário, 16,3%, seguidos pelos deputados estaduais Marcelo Freixo (PSOL), com 9,4%, e Flávio Bolsonaro (PSC), com 7,1%, e pelas deputadas federais Jandira Feghali (PCdoB), com 4,8%, e Clarissa Garotinho (PR), com 4,2%, que tende a não concorrer. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.


Há pesquisas mais antigas, do ano passado, em que Romário ombreava com Marcelo Crivella. Para o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, os números dos levantamentos mais recentes refletem um cenário em que a candidatura de Romário era considerada improvável pelos entrevistados.

Foi Siqueira quem deu um ultimato para que o senador se decidisse até sexta-feira, já que estava sendo procurado por candidatos do Rio interessados em ter o PSB em suas coligações. "Francamente, achei que ele já tinha desistido. Ele nos surpreendeu. Às vezes, o candidato precisa de um estímulo", diz Siqueira.

O dirigente do PSB estava em tratativas adiantadas para uma aliança com o PRB de Crivella. Em troca do apoio ao seu senador do Rio, o PRB oferecia apoio a candidatos do PSB em quatro capitais: Belo Horizonte, Fortaleza, Natal e Aracaju. A prioridade, no entanto, era pela candidatura própria, conta Siqueira, para quem o "vice ideal" de Romário seria o de alguém mais vinculado à classe média do Rio, que complemente o perfil popular do popular.

A chegada de Romário atrapalha em muito os planos de Eduardo Paes em eleger como sucessor o deputado federal e correligionário Pedro Paulo, que foi uma espécie de primeiro-ministro ao longo dos dois mandatos do pemedebista. O deputado, que aparece numericamente em sétimo lugar, com 3,6% das preferências, terá a seu favor a máquina da prefeitura, uma ampla coligação e aposta no crédito pela realização da Olimpíada. Pouco conhecido, no entanto, seu desafio é o de construir uma boa imagem depois que o primeiro fato de grande repercussão ligado a seu nome foi o episódio de agressão à ex-mulher. Sua taxa de rejeição, pela Paraná Pesquisas, é de 17,2%, a terceira maior - atrás de Clarissa Garotinho (21,4%) e Flávio Bolsonaro (19,3%) - e a mesma de Crivella, que é muito mais conhecido.

Paes tentou atrair Romário para apoiar Pedro Paulo, numa aliança que ficou distante depois que Siqueira, em entrevista ao Valor, em novembro do ano passado, avisou ao senador que o PSB vetaria uma coligação com o PMDB do Rio. "Avisamos com todas as letras que não iríamos apoiar. Chegamos a um consenso de que o ciclo do PMDB no Rio está se fechando. Há um desgaste do prefeito, que não tem candidato natural nem viável. Há provas, registros das agressões. É muita coragem em lançá-lo", diz. Ao Valor, Pedro Paulo afirma que "ninguém mais do que ele tem interesse que essa história seja esclarecida".

Durante a campanha, Romário também deverá ser cobrado pelos adversários a dar explicação. Em dezembro do ano passado, Siqueira o destituiu da presidência regional do PSB por ter como assessor parlamentar no Senado e também seu secretário de Finanças no diretório estadual Wilson Musauer Júnior, reú na Justiça, acusado de cometer quatro homicídios. Depois de afastá-lo, Romário voltou ao comando da sigla no Rio.

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