sexta-feira, 17 de junho de 2016

Temer: se tivesse cometido crime não poderia presidir país

• Presidente interino rebate Machado por acusação de pedido de propina

Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente interino, Michel Temer, classificou de “irresponsável, leviana, mentirosa e caluniosa” a denúncia que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado fez em sua colaboração premiada. Na delação, Machado disse que Temer lhe pediu uma doação para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012. Envolvido pela primeira vez na Lava-Jato, com pouco mais de um mês à frente do Planalto, Temer não mencionou o suposto encontro com o delator nem deu mais detalhes sobre sua relação com Sérgio Machado.

— Quero fazer uma declaração a respeito da manifestação irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa do cidadão Sérgio Machado — atacou Temer, em pronunciamento no Planalto à imprensa.

Temer disse que estava se dirigindo à sua família, aos amigos e ao povo brasileiro para poder “andar nas ruas do Brasil”. Ele disse que, se tivesse cometido o crime de que Machado lhe acusou em delação premiada, não teria condições de presidir o país. Além de falar como “ser humano”, Michel Temer afirmou que não “deixará passar” acusações desse tipo. Sem mencionar nomes, disse que não seguirá o exemplo de “alguns” que deixam “passar em branco”. Ele garantiu que virá a público manifestar-se todas as vezes em que houver denúncias contra ele.


— Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou não teria até condições de presidir o país — disse. — Nada impedirá que continuemos a trabalhar em prol do Brasil e do povo brasileiro.

Propina via doação oficial
Anteontem, o conteúdo da colaboração premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado foi tornado público: o delator disse que avisou a Temer que repassaria R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita, em 2012. Machado afirmou ainda, no depoimento, que ficou claro que se tratava de pedido de repasse, por meio de doação oficial, de propina de contratos da subsidiária da Petrobras.

A delação de Machado envolveu políticos de oito partidos. Entre eles: Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado; o senador Aécio Neves (PSDB-MG); o senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento do governo interino; e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). O PT, partido da presidente afastada Dilma Rousseff, teve cinco políticos citados.

Na quarta-feira, por meio de nota, Temer chamou de “absolutamente inverídicas” as informações de que ele teria intermediado propina para Chalita e disse que mantinha com M achado um relacionamento “apenas formal e sem nenhuma proximidade”. Ontem, no pronunciamento de cerca de sete minutos, Temer buscou ressaltar feitos do governo, como o corte de cargos comissionados e a proposta que fixa um teto para o gasto público.

As notícias negativas levaram Temer a cancelar o plano que tinha de fazer na noite de hoje um pronunciamento à nação em rádio e TV.

A ideia era, primeiro, se apresentar à população, já que pesquisas recentes revelaram que ele é pouco conhecido pelo povo brasileiro. Na fala, Temer aproveitaria o fato de ter enviado ao Congresso um pacote econômico para limitar os gastos públicos e faria um diagnóstico da crítica situação das contas do governo, buscando demonstrar ter recebido uma “herança maldita” da presidente afastada, Dilma Rousseff.

Abertura de inquérito
No entanto, diante da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado o citando nominalmente e da demissão de Henrique Eduardo Alves (Turismo), venceu a tese de que este não é o melhor momento para Temer “entrar na casa das pessoas".

A Procuradoria-Geral da República ainda vai analisar se pedirá abertura de inquérito para investigar o caso que envolve o presidente em exercício. Se utilizar os mesmos critérios adotados em relação a Dilma Rousseff, a tendência do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, será deixar as investigações para depois que Temer sair da Presidência. Isso porque a Constituição prevê que o presidente não pode ser investigado ou processado por ato anterior ao atual mandato.

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