sexta-feira, 24 de junho de 2016

Terceiro ex-tesoureiro do PT é alvo de operação

• Paulo Ferreira teria tentado atrapalhar investigações, segundo MPF

Dimitrius Dantas*, Jailton de Carvalho, Simone Iglesias e Eduardo Barretto - O Globo

Com a deflagração da Operação Custo Brasil, Paulo Ferreira, tesoureiro do PT de 2005 a 2010, tornou-se o terceiro ex-tesoureiro da sigla a ser alvo da Lava-Jato ou de um desdobramento dela. O sucessor, João Vaccari, está preso há mais de um ano. Réu, Delúbio Soares, que o precedeu, foi condenado no mensalão.

No pedido de prisão de Ferreira, os investigadores do MPF de SP afirmam que ele tentou “afinar o discurso” no caso Consist com Daisson Portanova, um dos seus assessores e alvo da operação ontem. A combinação de versões seria tentativa de atrapalhar as investigações.


Além dos ex-tesoureiros petistas, dois ex-tesoureiros de campanhas do partido também são investigados: o ex-ministro Edinho Silva e José de Filippi.

A decisão do juiz Paulo Bueno de Azevedo mostra uma transmissão da responsabilidade de Ferreira no esquema de propina para Vaccari. Segundo o pedido do MPF, após deixar o cargo, Ferreira teria pedido ao ex-vereador Alexandre Romano, um dos operadores do esquema, para procurar Vaccari e tratar do tema Consist. Segundo as investigações, foi Ferreira quem indicou Romano para participar.

“Paulo Ferreira, ex-secretário de Relações Institucionais do PT, lhe procurou, de forma autônoma, pedindo repasses ao escritório Portanova para ajudá-lo”, afirmou Romano em delação.

Quando deixou o cargo de tesoureiro, Vaccari teria assumido a função de definir a divisão dos pagamentos. Segundo Romano, Vaccari indicou as empresas que receberiam os valores e também decidiu sobre os pagamentos ao ex-ministro Carlos Gabas.

— Quem definia essa fatia, os elementos de provas são claros, era Vaccari. Ele dizia quanto cada um deveria receber — disse o delegado da PF Rodrigo de Campos Costa.

Ferreira não foi notificado do pedido de prisão. Ele está em casa aguardando a PF. Ferreira disse ao GLOBO que soube por seu advogado, José Roberto Batocchio, do mandado:

— Ninguém me procurou ainda. Como não me localizaram, já disseram até que estou foragido. Mudei de apartamento recentemente, pode ser isso. Qualquer solicitação, vou comparecer — disse, por telefone, ao GLOBO.

O ex-tesoureiro petista deve se entregar hoje.

Ferreira afirmou que agendou reuniões de Romano com parlamentares do PT, mas não se envolveu com negócios do ex-vereador. Disse que Romano pagou algumas despesas da campanha dele, mas irrisórias, em torno de R$ 5 mil. Alega que não sabia do volume de dinheiro movimentado por Romano. Se soubesse, disse, teria pedido contribuição de campanha mais significativa:

— Não tenho negócios com Romano. Tenho relações políticas. Ele me procurava para eu ver agenda para ele. Queria agenda com deputados. Com o Guimarães (José Guimarães, ex-líder do PT na Câmara), por exemplo.

Ferreira disse conhecer Romano desde 2006, mas que ficou surpreso ao saber que ele arrecadara R$ 32 milhões em propina.

(*Estagiário, sob supervisão de Mariana Timóteo. Colaborou Renato Onofre)

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