domingo, 24 de julho de 2016

A máquina das mentiras da Sete Brasil - Elio Gaspari

- O Globo

Desde o final de 2014 sabe-se que a Sete Brasil, empresa que forneceria 29 sondas à Petrobras, era uma fabricação duvidosa na origem, anacrônica nos meios e perdulária nos fins. Ideia do petrogatuno Pedro Barusco, produziria equipamentos caros, porém nacionais.

Lula meteu no negócio de R$ 28 bilhões os fundos estatais (Previ, Petros e Funcef, mais as arcas do FGTS) e atraiu os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander. As coisas só iriam bem se o BNDES financiasse R$ 8,8 bilhões, mas o banco sentiu o cheiro de queimado e retraiu-se. Micou a Caixa Econômica, com R$ 700 milhões.

Até aí há apenas mais uma petrorroubalheira. No caso da Sete houve mais. Construiu-se uma catedral de patranhas indicativa de que, apesar da Lava-Jato, ainda há gente jogando com a boa-fé do público e as ilusões do mercado. Ao longo de dois anos, repetiu-se que o problema seria resolvido pelo BNDES. Fechada essa porta, tudo seria acertado com um redimensionamento do contrato pela Petrobras. Era tudo fantasia, e a empresa marchava para a recuperação judicial.


Em maio do ano passado, o presidente da Sete Brasil, Luiz Eduardo Carneiro, disse à CPI da Petrobras que auditores externos examinaram a empresa e nada acharam de anormal. Mais: informou que Pedro Barusco e João Carlos Ferraz (seu antecessor no cargo) não foram “bons” executivos. Carneiro dizia essas coisas enquanto Ferraz negociava sua colaboração com o Ministério Público.

Na semana passada, Ferraz contou ao juiz Sérgio Moro que cobrava propinas de 0,9% aos estaleiros que contratava e dividia o butim com João Vaccari, então tesoureiro do PT. O comissariado coletava dois terços, e o terço restante ia para Barusco e outros dois diretores da Petrobras.

Os bancos que investiram na Sete, bem como empresas que pagavam propinas, têm ações no mercado. A propagação de mentiras e fantasias em torno das atividades da Sete não ofendia apenas os otários que lhes davam crédito. Iludia também o mercado.

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