quinta-feira, 14 de julho de 2016

Aliado de Temer, Rodrigo Maia derrota centrão e presidirá Câmara

• Deputado do DEM do Rio vence Rogério Rosso por larga margem: 285 a 170

Ao fim da votação em segundo turno, plenário grita ‘Fora, Cunha’, dando adeus ao parlamentar afastado que renunciou ao cargo semana passada e inaugurando um novo tempo na Casa

Apoiado pelo governo Temer, por parte da antiga oposição (PSDB, DEM e PPS) e da atual (PT e PCdoB), Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito ontem presidente da Câmara, derrotando o centrão, ligado ao ex-presidente e deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No segundo turno, Rodrigo Maia teve votação acima da esperada, com 285 votos, contra 170 de Rogério Rosso (PSD-DF), do centrão. Ao longo do dia, o Planalto atuou para enfraquecer a candidatura de Marcelo Castro, ex-ministro do governo Dilma, que teve só 70 votos e ficou de fora do segundo turno. Rodrigo já assumiu o cargo para mandato-tampão que será encerrado em 31 de janeiro do ano que vem. O discurso dele, ao assumir, foi de abertura ao diálogo.

Centrão perde, governo ganha

• Rodrigo Maia vence eleição para presidir a Casa em mandato-tampão, derrotando aliado de Cunha

Catarina Alencastro, Eduardo Bresciani, Isabel Bbraga, Jjúnia Gama, Leticia Fernandes e Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- Numa vitória por margem folgada em segundo turno, na qual se juntaram a velha e a nova oposição, Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito no início da madrugada de hoje presidente da Câmara dos Deputados com 285 votos, contra 170 para o segundo colocado, Rogério Rosso (PSD-DF), candidato do centrão e ligado ao expresidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Aos gritos de “Fora, Cunha”, o plenário comemorou a vitória de Maia, que rompeu com Cunha recentemente após ter mantido relação próxima com ele ano passado.

O resultado das urnas resumiu a guinada na reta final da eleição e representou uma grande derrota para o centrão, que ganhou força na gestão de Cunha à frente da Câmara. Maia teve 120 votos no primeiro turno e somou mais 165 no segundo, conquistando um mandato-tampão até fevereiro do próximo ano.

Maia aproveitou o sentimento generalizado contra Cunha para atrair os dois polos, direita e esquerda. A aliança com o PT e os demais partidos do campo da esquerda começou a ser construída dias atrás e quase vingou já no primeiro turno. Os petistas e seus aliados, no entanto, preferiram apoiar o candidato do PMDB, Marcelo Castro (PI), no primeiro turno. Nas 24 horas antes da eleição, o Planalto entrou em cena para esvaziar o nome de Castro. Ex-ministro da presidente afastada, Dilma Rousseff, Castro, que votou contra o impeachment, era visto como um dissidente que simbolizaria uma derrota do governo de Michel Temer.

Ao chegar ao segundo turno sem Castro na disputa, o novo presidente da Câmara fechou o apoio de PT, PDT e até do PCdoB, adotando um discurso de que “não se vota em um partido, mas em uma pessoa”. O discurso de Maia era de que é necessária uma oposição forte para fiscalizar o governo, em um aceno ao PT. Um gesto do deputado bem visto por petistas foi o de, na noite de ontem, após sair na frente no primeiro turno, ele ter começado a romaria pelas lideranças de partidos e gabinetes, em busca de apoios, pelo gabinete do deputado Marco Maia (PT-RS), último petista a presidir a Câmara.

Lealdade sem sorrisos
Após ver sua candidatura fragilizada no início da semana com o crescimento de Rosso e Castro, Maia cresceu ontem logo cedo ao consolidar o apoio dos quatro partidos que faziam oposição ao governo Dilma e hoje apoiam o governo interino de Michel Temer — PSDB, DEM, PSB e PPS. O grupo se uniu por dois motivos: o lançamento por parte do PMDB da candidatura de Castro, somado à relutância do Planalto em fechar um acordo com o PSDB para apoiar uma candidatura tucana em 2017. Esses dois fatores acabaram levando as quatro legendas a selar a união com Maia, em ato na manhã de ontem na liderança do PSDB, último partido a sacramentar o apoio ao deputado. Funcionou. Juntos, os quatro partidos tinham ontem 117 deputados. Maia conseguiu 120 votos no primeiro turno, chegando ao segundo turno na liderança.

Ontem, ao conversar com dirigentes do PMDB, Rodrigo Maia chegou a dizer que poderia ter ganho “sem disputar’’. Ele afirmou que lhe foi oferecido apoio para se eleger agora, em troca de um acordo com o centrão para o próximo biênio. Ele disse que negou a proposta e afirmou querer governar de forma justa, dando a cada legenda "o espaço que ela tem".

A vitória de Maia não foi bem digerida no centrão. Antes mesmo da vitória, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), um dos expoentes do bloco, não escondia a irritação, que compartilhou com o líder do governo, André Moura (PSC-SE), ao acusar o governo de estar operando a favor da candidatura do deputado do DEM.

—É a operação do governo para o futuro. Foi assim com a Dilma e deu no que deu — disse o líder, em tom de ameaça.

Arantes contou também que antes da eleição, os líderes do centrão se reuniram com Fernando Giacobo (PR-PR) e acertaram que quem fosse para o segundo turno, teria o apoio dos demais. Giacobo, no entanto, fechou apoio a Rodrigo Maia, assim como toda a bancada.

— Fico triste porque ele não cumpriu a palavra. Acordo tem que ser cumprido. Na política isso é péssimo. É uma construção (do governo) negativa para o futuro — reclamou Jovair Arantes.

Em discurso logo antes do resultado, Maia disse que era conhecido, quando chegou à Câmara, como alguém que não sorri, mas que cumpre palavra:

— Quando cheguei aqui diziam: o Rodrigo não sorri. Mas o Rodrigo cumpre palavra, o Rodrigo é leal — disse o agora presidente da Casa.

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