sábado, 23 de julho de 2016

Combate ao terrorismo não tem volta – Editorial / O Globo

• A mobilização dos organismos de segurança precisa ser mantida depois da Olimpíada, porque o perigo do terror é mesmo uma ameaça mundial e constante

Os ataques ontem na cidade de Munique, na Alemanha, confirmaram a existência de uma onda de terror no mundo, concentrada na Europa, alvo prioritário do sectarismo islâmico, junto com os Estados Unidos.

Mas eles não seriam necessários para justificar a acertada decisão do governo brasileiro de, na quinta-feira, cumprir 12 mandados de prisão temporária de brasileiros defensores do Estado Islâmico, segundo demonstram as mensagens trocadas entre eles e que vinham sendo monitoradas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A operação da Polícia Federal para fazer prisões em vários estados (Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Mato Grosso, Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul), batizada de “Hashtag”, foi deflagrada, explicou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, porque o grupo passou a planejar ações, com a compra de pelo menos um fuzil, no Paraguai, pela internet. Nisso ficou evidenciado o seu caráter amadorístico. Mesmo assim, o governo resolveu agir, e fez bem.


Ainda que seja neófita no manejo de armas e explosivos, uma pessoa pode causar grandes estragos e provocar mortes. Inclusive a dela, marca desses ataques suicidas.

A característica do terrorismo praticado pelo EI facilita ações de não “profissionais”. Não importa, é claro, que sejam pessoas desequilibradas. O uso intensivo da internet pelo grupo, para fazer conversões em todo o mundo, inclusive em países de língua portuguesa, incentiva operações solitárias com o uso de qualquer arma, mesmo um caminhão, como aconteceu em Nice, na França.

Os últimos ataques, agora em Munique, servem para enfatizar que a luta contra o terrorismo no Brasil é um caminho sem volta. Não poderá acabar com o fim da Olimpíada.

O risco do terror veio para ficar, também porque a possibilidade de pessoas se radicalizarem pela internet é efetiva. O que se sabe até agora sobre o grupo detido serve de exemplo.

E não pode ser considerado sem importância o fato de haver no Sul, na Tríplice Fronteira, entre Brasil, Paraguai e Argentina, comunidades muçulmanas bem conectadas com o Oriente Médio.

As conexões entre organismos de segurança brasileiros com estrangeiros, estreitadas em função da Olimpíada, não podem também ser totalmente rompidas depois dos Jogos. Além disso, se torna premente eliminar uma conhecida e grave falha, muito visível no combate ao crime comum: a descoordenação entre aparelhos de segurança estaduais e federais.

Desta primeira operação resulta, também, que se comprova a validade da Lei Antiterrorismo, contra a qual se colocaram hostes petistas, preocupadas em proteger companheiros mais radicais, entre eles os sem-terra. Está provada a inconsequência desta militância. É esta lei que permite reações rápidas do Estado, como necessário.

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