quarta-feira, 20 de julho de 2016

Desânimo olímpico – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Faltam duas semanas para o início da Rio-2016, mas o espírito olímpico ainda não contagiou os brasileiros. Pelo contrário: o Datafolha descobriu que a rejeição aos Jogos dobrou em três anos.

Em junho de 2013, um quarto da população era contra a realização da Olimpíada. Agora o percentual de insatisfeitos saltou para 50%. Metade dos entrevistados diz não ter nenhum interesse pelas competições, e 63% acreditam que o megaevento vai trazer mais prejuízos do que benefícios para o país.

O mau humor parece estar ligado à situação do país e da cidade-sede. O Brasil mergulhou na maior crise política e econômica das últimas décadas, e o Rio voltou aos tempos da penúria e do bangue-bangue.


O governador interino decretou estado de calamidade pública, mas nem precisava. Basta ver a situação de descontrole na segurança, o calote nos servidores e o sucateamento da universidade estadual, a Uerj.

A fase não está boa nem para a propaganda. A turnê da tocha pelo país ficou manchada pela morte estúpida de uma onça. Em muitas cidades, os moradores parecem mais empenhados em tentar apagar o fogo do que em participar do oba-oba.

As promessas descumpridas também contribuem para o clima de desânimo. A baía de Guanabara continua imunda, as lagoas da Barra da Tijuca idem, e a expansão do metrô carioca custou o dobro do planejado, mas ainda não foi inaugurada. Se tudo der certo, entrará em funcionamento a cinco dias dos Jogos.

É possível que o início das competições anime a maioria dos insatisfeitos, como aconteceu na Copa. Mas o prefeito Eduardo Paes, que entregou suas obras a tempo, teve razão ao dizer que a Olimpíada será uma "oportunidade perdida" para o país.

Isso também vale para os políticos que festejaram a escolha do Rio como cidade-sede. Em 2009, Lula e Sérgio Cabral transpiravam euforia no anúncio do COI. Hoje os dois andam por baixo, às voltas com a Lava Jato.

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