quarta-feira, 13 de julho de 2016

Integrante da ‘ala dissidente’ do PMDB, Castro preocupa Temer

• Aliados veem demora do presidente em interferir na eleição na Casa Eliseu Padilha deixou claro que Planalto se preocupa com um possível racha na base após a escolha do novo presidente da Câmara

Júnia Gama, Catarina Alen Castro e Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- Incomodado com a vitória na bancada do PMDB do ex-ministro de Dilma Marcelo Castro (PI) para ser o candidato do partido à presidência da Câmara, o Planalto entrou em campo para evitar sair como derrotado na disputa. Castro é considerado um “ícone” da ala dissidente do partido, que se manteve contra o impeachment, e sua eventual eleição é vista com desconfiança pelo governo.

Nas últimas semanas, o presidente interino, Michel Temer, e seus principais ministros vinham recebendo, de forma discreta, os diversos candidatos que pleiteiam a vaga, sempre com o discurso de que o governo não irá interferir na eleição. Ontem, as conversas se tornaram mais explícitas.

Ânimos acirrados
Os ânimos se acirraram, e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, deixou claro o temor do Planalto com um racha na bancada no dia seguinte à eleição. Integrantes da antiga oposição criticaram o que consideram um suposto favorecimento do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, à candidatura de Rogério Rosso (PSD-DF), ainda apontado como favorito no centrão. O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), por exemplo, retirou-se da disputa atirando contra o governo. Para aplacar os ânimos na base, Temer fez questão de demarcar que a escolha de Castro mostrava que o Planalto não estaria interferindo no pleito.


— Isso é uma demonstração de que não entramos na questão da Câmara — disse Temer ao sair de um almoço da Frente Parlamentar Agropecuária.

Na entrada do encontro, o ministro da Secretaria do Governo, Geddel Vieira Lima, deu uma declaração na mesma linha:

— Essa primeira escolha de Marcelo Castro é demonstração inequívoca de que o governo não se envolveu no processo — disse Geddel, que afirmou que o Planalto fará uma nova análise e poderá se posicionar quando a disputa chegar ao segundo turno.

Logo que a bancada do PMDB formalizou a candidatura de Castro, a reação no Planalto foi de irritação. Segundo auxiliares de Temer, o ex-ministro da Saúde não tem um histórico de afinidade com o presidente interino.

Além disso, o parlamentar confrontou a resolução do partido, em março deste ano, que determinou o desembarque do governo Dilma e proibiu os peemedebistas de ocuparem cargos na gestão da petista. Por haver contrariado a decisão, Castro se tornou alvo de processo de expulsão na Comissão de Ética do PMDB, que ainda está sob análise.

“Pior vitória é a do Castro”
Assessores do governo apontaram, inclusive, a digital do ministro do Esporte, Leonardo Picciani, na articulação da candidatura. O ministro era líder do PMDB quando o impeachment tramitava na Câmara e também se posicionou contra o processo, apesar da determinação da bancada a favor do afastamento de Dilma.

— Todas essas candidaturas que estão colocadas são de deputados da base, então, de uma forma ou de outra, o governo poderá dialogar. Mas a pior vitória para o Planalto é a do Marcelo Castro, porque ele foi até o último momento contra o impeachment — afirma um interlocutor do governo.

Horas após ser escolhido, no entanto, Castro afirmou não ver razões para que o presidente Michel Temer e o Palácio do Planalto se preocupem com sua candidatura. Segundo ele, ao ter um candidato oficial, o PMDB evita que os demais candidatos da base aliada fiquem irritados com a possibilidade de o partido garantir seu apoio a apenas um deles.

— Eu sou um alívio para o Palácio do Planalto. O PMDB ia pender para um ou outro candidato. Agora tem um candidato oficial — avaliou.

Peemedebistas do grupo contrário ao nome do ex-ministro de Dilma reclamaram da falta de ação do Planalto para evitar que Castro fosse oficializado candidato do PMDB. Agora, tentam encontrar soluções. Segundo o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), o Palácio do Planalto foi alertado na noite de segunda-feira sobre o crescimento da candidatura de Castro, mas preferiu não interferir.

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