quarta-feira, 13 de julho de 2016

Opinião do dia – Jürgen Habermas

As ciências sociais precisam antes de mais nada garantir a adequação de suas categorias ao objeto, pois os esquemas definidos aos quais as magnitudes covariantes somente se coadunam em nível causal, não justificam o nosso interesse pela sociedade. Dando por assente que as relações institucionalmente coisificadas são apreendidas nos meandros dos modelos cientifico-sociais, tal como as demais regularidades empíricas, de igual forma é duvidoso que um conhecimento empírico- analítico deste tipo possa levar-nos a conhecer magnitudes sociais no mesmo nível alcançado pelas ciências naturais. Pois bem, tão logo o interesse cognoscitivo ultrapassa o domínio da natureza, o que no caso significa: além da manipulação da esfera naturalista, a indiferença do sistema com referência ao seu universo de aplicação transforma-se numa falsificação do objeto. Sacrificada nos altares de uma metodologia geral, a estrutura do objeto condena a teoria a insignificância. Na esfera da natureza a trivialidade dos conhecimentos aceitos não possui peso maior; no âmbito das ciências sociais, entretanto, deve-se contar com essa vingança do objeto onde o sujeito no processo do conhecer se vê limitado por forças da esfera do social sujeito à análise.

O sujeito investigador somente se liberta dessa coação na medida em que concebe a existência social como uma totalidade que determina inclusive a própria pesquisa. A tão falada liberdade de escolha de categorias e modelos está morta para a ciência social e cada vez mais aparece no plano da consciência a noção de que “os dados de que dispõe não são dados que se esgotam no quantitativo, mas sim e exclusivamente, dados estruturados no contexto geral da totalidade social”."
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Jürgen Habermas, 1929. ‘Teoria analítica da ciência e dialética’, pp.278-9. Abril Cultural, São Paulo, 1980.

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