segunda-feira, 11 de julho de 2016

Opositores apostam em escândalo para vencer PSB no Recife

Marina Falcão – Valor Econômico

RECIFE - A oposição ao PSB no Recife aposta nas investigações da Polícia Federal, que põem em xeque o financiamento de campanhas do PSB, partido do falecido ex-governador Eduardo Campos, para quebrar a hegemonia do partido na capital. Para permanecer no comando da capital pernambucana, o atual prefeito Geraldo Júlio (PSB) vai enfrentar pelo menos dois adversários competitivos, do PSDB e do PT, que tendem a liderar a briga para ir ao segundo turno.

O PT definiu o nome do ex-prefeito João Paulo, que já governou a capital pernambucana por oito anos, para a disputa. Diferentemente do que ocorreu nas últimas eleições municipais, em que houve um racha no partido durante as prévias, desta vez o partido conseguiu praticamente um consenso em torno de João Paulo, que se tornou uma escolha óbvia diante da falta de quadros novos na legenda. A sigla não elegeu deputados federais em 2014.

Agora, o PT está tentando uma aliança com o deputado estadual Sílvio Costa Filho (PRB), filho do deputado federal Silvio Costa (PTdoB), um dos principais defensores da presidente afastada Dilma Rousseff no Congresso, que manifestou vontade de se lançar candidato sozinho, ainda no primeiro turno. "Se não for possível essa parceira no primeiro turno, faremos no segundo", diz o presidente do PT em Pernambuco, Bruno Ribeiro.


Para Ribeiro, as investigações sobre um esquema de empresas de fachada usadas para transferir dinheiro da Petrobras e das obras da transposição do São Francisco para campanhas do PSB (Operação Turbulência), devem entrar no centro das discussões durante a campanha.

"Evidentemente, os pleitos municipais sempre focam muito na melhoria dos serviços urbanos, é um traço. Mas pelas peculiaridades deste ano, a Operação Turbulência vai entrar na pauta", afirma Ribeiro.

A morte do empresário Paulo César Morato, testa de ferro do esquema apurado pela PF, pode apimentar ainda mais o debate eleitoral, principalmente devido às supostas falhas na investigação (ver matéria nesta página). Desde já, a oposição tem atuado para descredenciar a ação da Polícia Civil de Pernambuco, do governador Paulo Câmara (PSB). O deputado estadual Edilson Silva (PSOL) entrou com um pedido na Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o caso passe a ser investigado pela Polícia Federal. Silva também deve se lançar candidato no Recife.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o ajuizamento da ação penal contra os envolvidos na Operação Turbulência deve ocorrer "na maior brevidade possível" e "ainda este ano", o que pode coincidir com o período da campanha. No entanto, mesmo que a Operação Turbulência e a morte de Morato percam fôlego até as eleições, efeitos secundários das investigações podem favorecer os adversários do PSB.

"Com a investigação focando o financiamento das campanhas do partido, a tendência é que o porte da campanha do PSB esteja mais próximo ao dos adversários. É uma situação diferente do que ocorreu na última eleição para governador, quando se via uma discrepância imensa em relação aos adversários", afirma o deputado federal Daniel Coelho (PSDB-PE), outro pré-candidato ao pleito na capital pernambucana.

Uma antiga liderança da sigla de Coelho no Estado também está relacionada ao escândalo da Operação Lava-Jato. O ex-presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), foi citado por dois delatores como tendo recebido propina para trabalhar contra uma CPI da Petrobras. Guerra morreu em 2014. A família do político nega as acusações.

Ribeiro, do PT, avalia que de modo geral as campanhas vão ficar mais modestas também por causa da proibição de doação de empresas privadas para campanhas eleitorais. "Acho que a política vai retomar o corpo a corpo e haverá menos alquimia de marqueteiros. As campanhas do PSB sempre chocavam pela exuberância e acho que isso não vai acontecer mais", diz.

Correndo por fora, a deputada estadual Priscila Krause (DEM) também entrará na disputa como mais um peso para forçar o segundo turno. Jovem, com baixa rejeição e elevado potencial de crescimento, Priscila pode ter uma campanha diferente da que fez o correligionário Mendonça Filho nas últimas eleições municipais.

Desta vez, se o PSDB for ao segundo turno - coisa que não conseguiu contra Júlio nas últimas eleições municipais, mas ficou em segundo lugar -, a aliança com o DEM é dada como certa.

Procurados pela reportagem, Geraldo Júlio e o presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, não responderam.

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