terça-feira, 5 de julho de 2016

Para colocar 'país nos trilhos', Temer diz que adotará medidas impopulares

Por Estevão Taiar e Camila Souza Ramos – Valor Econômico

SÃO PAULO - O presidente interino Michel Temer afirmou ontem que "a partir de certo momento" será obrigado a tomar medidas impopulares. Discursando no Global Agribusiness Forum, o pemedebista comemorou o documento que recebeu de 46 entidades do agronegócio em apoio a ele. Esse apoio, segundo Temer, será importante no momento de apresentar as medidas.

"Estamos em um sistema de contenção [de gastos], mas a contenção ainda não começou a aparecer. Por isso, a importância desse documento, assim como já aconteceu com a indústria, com o comércio varejista [que também apoiaram Temer]. Esse apoio é fundamental, porque a partir de certo momento começaremos com medidas, digamos assim, mais impopulares", disse, sem explicar quais serão essas medidas e quando elas serão tomadas.

Temer garantiu, no entanto, que não receia propor tais medidas, porque o seu objetivo "não é eleitoral". Se confirmado pelo Senado o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, ele disse que tem como meta "colocar o Brasil nos trilhos". Caso o objetivo seja cumprido, "não quero mais nada da vida pública", afirmou, aplaudido de pé pelos representantes do agronegócio.

Mesmo falando em contenção, o presidente interino defendeu o reajuste do salário dos funcionários públicos, feito no mês passado e criticado por ir contra o ajuste fiscal alardeado por ele mesmo.


"O aumento dos funcionários públicos já estava previsto e foi menor do que a inflação", disse. Os gastos de R$ 58 bilhões decorrentes do aumento serão divididos em quatro anos, "mas falam como se fosse R$ 58 bilhões só neste ano", acrescentou. As despesas de 2016 já estão previstas no Orçamento deste ano e na meta fiscal de déficit de R$ 170 bilhões, garantiu.

Segundo Temer, caso não fosse dado o aumento, haveria risco de realização de greves no funcionalismo e em setores essenciais. "Seria uma coisa muito desastrosa para o governo e para o país [não fazer o acordo]", disse.

O presidente interino também exaltou o acordo feito com os Estados, a mudança da meta fiscal, a desvinculação de receitas da União (DRU) e a proposta de emenda à Constituição que limita o crescimento dos gastos do governo à inflação do ano anterior. Essas medidas foram vistas descritas por ele como provas de sua boa relação com o Congresso. "Tivemos uma maioria extraordinária na votação da DRU. Sem as ausências, teríamos 371 votos na Câmara", garantiu. "Na mudança da meta fiscal, havia quórum na Câmara e no Senado às 4h30 da manhã", disse. "Em pouquíssimo tempo conseguimos estabelecer uma conexão entre Legislativo e Executivo. Em um Estado democrático, você depende do Congresso. Tem que haver interação entre os dois Poderes", disse. A presidente afastada Dilma Rousseff era criticada por analistas pela dificuldade que tinha nas negociações com Câmara e Senado.

Temer aproveitou para fazer acenos ao agronegócio, contando de sua infância em Tietê, interior de São Paulo, e afirmando que deve sua posição de "presidente a República em exercício à agricultura".

Antes do discurso, representantes do agronegócio brasileiro leram no palco um comunicado de apoio ao presidente interino e o entregaram a ele. Intitulado 'Manifesto de confiança ao governo brasileiro', o texto diz que o agronegócio nacional "reafirma sua confiança na nova etapa de gestão do nosso país, sob o comando do presidente Michel Temer". "O agronegócio acredita que a administração federal tem legitimidade constitucional e conta com o comprometimento de uma equipe econômica competente", diz o texto, que pede ainda a abertura de novas frentes de negociações internacionais.

As viagens para o exterior estão, inclusive, nos planos de Temer, que revelou que pretende realizá-las em agosto, com o objetivo de incentivar o investimento estrangeiro no Brasil. "Tem muitos investidores estrangeiros esperando um pouquinho para depois investirem com muita força [no país]", disse ele, que pretende reforçar parcerias estrangeiras com agronegócio, indústria e comércio nacionais.

Ele ainda reafirmou a ideia de que "é preciso restabelecer a credibilidade e a confiança" dos investidores na economia brasileira e a importância de estabelecer "uma pacificação nacional e a interação entre empresário e trabalhador".

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