quarta-feira, 20 de julho de 2016

Proteger os Jogos – Editorial / Folha de S. Paulo

O atroz ataque terrorista perpetrado na cidade francesa de Nice, com saldo de 84 mortos, forçou o governo a intensificar os procedimentos de segurança para a Olimpíada do Rio. Ainda que ligados a um contexto externo, os temores tendem a reforçar o sentimento predominante de que o evento se tornou um estorvo para o país.

Recém-concluída pesquisa Datafolha aponta que, para 63% dos brasileiros, os Jogos trarão mais prejuízos do que benefícios para a população –há três anos, apenas 38% diziam o mesmo. Para 57%, a segurança pública será mais motivo de vergonha do que de orgulho.

Sem inimigos externos e conflitos étnicos ou religiosos pronunciados, o Brasil nunca esteve no foco de ações terroristas. Para compensar a inexperiência –e evitar ataques como os de Munique-72 e Atlanta-96–, as autoridades têm trocado informações e recebido treinamento de outros países.

Além da possibilidade de atos cometidos por iniciativa individual, o inusitado uso de um caminhão na carnificina de Nice trouxe preocupações adicionais com o trânsito. Mais barreiras e blitze policiais elevarão os transtornos para a população carioca.


A proteção aos Jogos envolverá, ao todo, 85 mil agentes de segurança, dos quais 47 mil no Rio, e os demais em outras cinco cidades onde haverá partidas de futebol.

Só o Orçamento federal deste ano reserva R$ 1 bilhão para as ações de segurança, defesa e inteligência –montante não incluído na estimativa oficial para o custo do evento, de R$ 39 bilhões em despesas públicas e privadas.

Pouco se detectou de ameaça concreta até o momento. Quatro estrangeiros vinculados a organizações terroristas tentaram obter credencial para a Olimpíada, mas foram barrados pela Polícia Federal, segundo a Rede Globo.

Apesar da aparente diligência, restam motivos para preocupação. Conforme se noticiou, a única revista do público para a entrada nas arenas ficou a cargo de uma empresa sem experiência no ramo. Além disso, a 16 dias do início, a seleção de 5.000 funcionários encarregados ainda está em curso.

Tudo considerado, parece razoável supor que o desencanto da opinião pública com os Jogos –e em particular o pessimismo com o desempenho da segurança– tenha relevante influência nas decepções acumuladas com os descaminhos políticos e econômicos do país.

Nesse sentido, não será surpresa se o início das competições vier a contribuir para desanuviar o mau humor geral. Afinal, já se espera tão pouco do evento; bastará, talvez, que transcorra em paz.

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