segunda-feira, 11 de julho de 2016

Remarcação de eleição para quarta complica situação de Cunha

Daniela Lima, Débora Álvares, Gustavo Uribe, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em um cenário ainda de muita incerteza, o Palácio do Planalto conseguiu neste domingo (10) fechar um acordo para que os deputados realizem às 19h desta quarta-feira (13) a eleição para a presidência da Câmara.

Os partidos do chamado "centrão" queriam eleger o sucessor de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nesta terça-feira (12), mas esbarraram na resistência do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), que havia marcado a sessão para dois dias depois.

Maranhão definiu a mudança com líderes da base aliada, que vinham pressionando para que ela fosse realizada antes da quinta (14). O receio do governo interino de Michel Temer era de que, por falta de quórum, a escolha ficasse para a volta do recesso branco, em agosto.

Antes de tomar a decisão, Maranhão conversou por telefone com Temer.

A nova data, que representa um meio-termo, complica ainda mais a situação de Cunha, que renunciou ao cargo na semana passada.

Aliado do peemedebista, o "centrão" (PP, PR, PTB, PSD, PRB e outras siglas menores) pretendia fazer a eleição coincidir com a sessão da Comissão de Constituição e Justiça desta terça que deve rejeitar o último recurso de Cunha para evitar a sua cassação.

O objetivo era derrubar a sessão da CCJ, já que as comissões não podem deliberar quando há votações no plenário principal da Casa.


Com a eleição acontecendo na quarta à noite, a CCJ terá dois dias livres para analisar o recurso de Cunha. A partir daí, o caso fica pronto para votação em plenário, possivelmente no início de agosto, após o recesso. Segundo Osmar Serraglio (PMDB-RJ), presidente da CCJ, o recurso em que Cunha tenta anular seu processo de cassação será votado nesta semana.

Base rachada
A sucessão está pulverizada em várias candidaturas, evidenciando um racha na base de apoio de Temer.

De um lado, o "centrão" (217 deputados) e o PMDB (66) buscam uma unidade entre eles cada vez mais difícil.

Presidente da comissão do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, Rogério Rosso (PSD-DF) ainda é o favorito do grupo, mas outros pleiteiam a vaga, como o segundo-vice presidente da Casa, Giacobo (PR-PR) e o primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP). Além da chance de um nome do PMDB.

No outro flanco da base de Temer, Rodrigo Maia (DEM-RJ) tenta se colocar como a opção aos apoiados por Cunha e costura acordo com PT (58 deputados) e demais partidos de esquerda. Promete a eles tratamento justo caso comande a gestão da Câmara. Antes aliado, ele rompeu com Cunha ao ser preterido como líder do governo na Casa.
No grupo de Maia (que reúne, grosso modo, a antiga oposição a Dilma), também há outros candidatos, como Heráclito Fortes (PSB-PI).

Os dois oponentes da base de Temer disputam o apoio do PSDB (51 parlamentares), que pode até lançar um candidato –possivelmente o líder Antonio Imbassahy (BA).

Sem preferido
Preocupado com os efeitos da disputa, Temer escalou ministros para garantir que ele não trabalhará por nenhuma candidatura.

"Temer é um homem de parlamento", disse o ministro, Geddel Vieira Lima (Governo). "E meu nome é Geddel, não é Pepe Vargas", concluiu, em referência ao ex-ministro de Dilma que conduziu a última eleição na Câmara.

O resultado, na ocasião, foi uma derrota do candidato patrocinado pelo governo e a eleição de Cunha, que depois aprovou a tramitação do pedido de impeachment.

Mas Geddel não esconde a pressa do governo para resolver o assunto. "Quando mais cedo, melhor para o Brasil."

Para evitar a piora do racha na base, o Planalto tenta convencer o PMDB a não lançar candidaturas, reservando a vaga para o "centrão".

Com o aceno petista para Maia, Temer tem demonstrado resistência a apoiá-lo, mas não exclui endossá-lo caso ele se viabilize favorito.
As principais siglas se reúnem nesta segunda (11) e terça para definir suas posições.

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