quarta-feira, 6 de julho de 2016

Temer aconselhou Cunha a renunciar à presidência

• Deputado tem se mostrado preocupado com mulher e filha

No Planalto, previsão é que o peemedebista não conseguirá escapar de punição; sobre o impeachment a ser votado no Senado, governo calcula que o afastamento definitivo de Dilma será aprovado por 60 votos

O presidente interino, Michel Temer, aconselhou o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, a renunciar ao cargo. Na última conversa que tiveram, no domingo, Cunha se mostrou mais inseguro do que nas anteriores e demonstrou preocupação com a mulher e a filha, também investigadas na Lava-Jato, informa Míriam Leitão .O governo considera impossível Cunha reverter sua situação no Conselho de Ética, que abriu processo contra ele. O deputado recorreu à CCJ, e o relatório deve ser lido hoje. Sobre a votação do impeachment no Senado, o Planalto calcula que o afastamento definitivo de Dilma será aprovado por 6 votos a mais que o necessário.

Conselho de Temer

• Presidente interino sugere a Cunha renunciar à presidência da Câmara; deputado ainda recorre

Míriam Leitão - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente interino, Michel Temer, aconselhou o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a renunciar ao cargo de comando na Casa na última conversa que eles tiveram, no domingo. Cunha sempre disse que não renunciaria, mas nessa conversa mostrou muito mais insegurança. O deputado confidenciou que teme que sua mulher, Cláudia Cruz , e sua filha, Danielle, investigadas na Lava-Jato pelo juiz Sérgio Moro, sejam presas, se ele perder o cargo. Por isso, tenta uma última cartada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), para anular a decisão do Conselho de Ética que aprovou a cassação de seu mandato.

Na avaliação do governo, Cunha dificilmente conseguirá reverter a decisão do Conselho de Ética com o seu recurso à CCJ. Mas, mesmo tendo ganhado uma sobrevida com os adiamentos, se conseguisse uma vitória na CCJ, Cunha não conseguiria passar pelo plenário. Apesar do grande número de deputados que respeitam a sua liderança, o ambiente político está totalmente desfavorável a ele.

O governo já discute o pós-Cunha na Câmara. Haverá nova eleição apenas para presidente da Casa, e o resto da Mesa permanece, inclusive o vice Waldir Maranhão (PP-MA). Exatamente como aconteceu no caso do ex-deputado Severino Cavalcanti, substituído por Aldo Rebelo. A articulação que está sendo feita com os deputados dos vários partidos da base é para que haja um único candidato para substituir Cunha. A avaliação que se faz no Planalto é que, se houver apenas um candidato governista, o processo ajudará a unir a base parlamentar, o que auxiliará a segunda fase da administração que começará após o impeachment.

“Solidariedade silenciosa”
Ainda que em público o presidente Michel Temer e seus ministros mais próximos sempre lembrem que estão em uma administração provisória, a cúpula do governo está convencida de que o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, será aprovado com 60 votos. Na votação da admissibilidade do processo de impeachment, 55 senadores votaram pelo afastamento da presidente. Agora, há convicção de que esse número aumentará até o dia da votação final.

Depois de entregar ontem um relatório lacrado, o deputado Ronaldo Fonseca (PROS-DF), relator do recurso de Cunha contra a decisão do Conselho de Ética, apresenta hoje seu voto na CCJ. A aposta entre aliados de Cunha é que o relatório de Fonseca deverá acatar pontos levantados pela defesa para tentar ajudar o presidente afastado.

Sem responder a perguntas, Fonseca disse que seu relatório tem 67 páginas e que optou por deixá-lo lacrado e só apresentá-lo hoje por se tratar de um voto complexo. O suspense provocou brincadeiras de alguns colegas, que indagavam se Fonseca seria uma “Tia Eron de calças”, em referência à deputada que votou contra Cunha no Conselho de Ética e só revelou o seu voto na hora H.

Hoje, após a leitura, aliados de Cunha devem pedir vista, adiando a votação para a próxima semana. O presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-PR), pretende votar o recurso na próxima terça-feira.

Gestos como o de Temer, de receber Cunha para conversar, e o do presidente da CCJ, de escolher Fonseca para relatar o recurso do presidente afastado da Câmara, foram vistos como “solidariedade silenciosa” a ele.

A votação na CCJ só deverá acontecer na próxima semana, e o presidente interino da Casa, Waldir Maranhão, avisou que a votação em plenário do processo contra Cunha ficará para agosto, após o recesso branco.

Aliados de Cunha afirmaram que ele só deverá renunciar à presidência da Câmara se vencer na CCJ. Eles contabilizam que, mesmo depois de todas as trocas feitas por partidos do centrão na composição da comissão, têm entre 28 e 31 votos, número inferior aos 34 necessários para vencer e fazer com que o processo retorne ao Conselho de Ética. Adversários de Cunha duvidam que o presidente afastado consiga vencer e contabilizam pelo menos 37 votos contra o recurso.

Em outro front, investigações do Ministério Público indicam que Cunha pagou US$ 300 mil em propina para o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) a partir de desvios de contratos da Carioca Engenharia e de outras empresas financiadas com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O dinheiro teria sido depositado em conta do ex-ministro na Suíça no período em que ele era presidente da Câmara, e Cunha, o líder do PMDB. (Colaboraram Isabel Braga, Leticia Fernandes e Jailton de Carvalho)

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