sexta-feira, 15 de julho de 2016

Um novo Carnaval – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

O Rio está habituado a apanhar, e dos seus filhos mais queridos. Para Millôr Fernandes, a cidade teve o seu apogeu nos anos 60 e então decaiu para sempre. Para Paulo Francis, o Rio morreu justamente em 1960, quando a capital se mudou para Brasília. E, para Ivan Lessa, o Rio só foi bom até 1949, quando ele tinha 14 anos. Devia ter razão — não havia uma semana nos anos 50 sem uma reportagem da revista "Manchete" detonando a cidade. O incrível é que, aos olhos de hoje, aqueles eram "os anos dourados".


E não só. Para Di Cavalcanti, o Rio acabara nos anos 30, quando as pessoas começaram a ir morar em Copacabana. Já para Lima Barreto, acabara muito antes, em 1903, quando Pereira Passos demoliu a velha cidade colonial e fez uma nova, com ares de Paris. Aliás, mal a poeta francesa Jeanne Catulle-Mendès chamou o Rio de "la ville merveilleuse", em 1912, e já se começou a falar aqui da "ex-cidade maravilhosa". O pessoal é assim mesmo, adora reclamar.

De volta a 2016 — nada mudou. O Rio tem vivido dias luminosos e deslumbrantes, as ruas estão tomadas de jovens de mochila, bermuda e bicicleta, a todo instante se inaugura uma obra e, em breve, será preciso fazer reserva até nos quiosques e botequins. O Rio pode produzir uma grande Olimpíada, mas, por enquanto, só se ouvem os espíritos de porco, os profetas da derrota e os que, exercitando o complexo de vira-lata, já decretaram o seu fracasso.

Foi assim também às vésperas da Rio-92, em 1992, da Jornada Mundial da Juventude, em 2013, e da Copa do Mundo, em 2014. Até hoje há gringos por aqui que vieram para esses eventos e nunca mais voltaram para casa.

Sim, eu sei, o Estado do Rio está falido, o Brasil, nem se fala, e o mundo em geral está um horror. A cidade do Rio de Janeiro pede apenas licença para fazer de sua Olimpíada um novo Carnaval.

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