quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A indústria reage – Editorial / O Estado de S. Paulo

As melhores notícias da economia, num ambiente ainda marcado pela recessão e pelo desemprego elevado, têm sido os sinais de recuperação da indústria, o setor mais importante por seus efeitos sobre o conjunto da atividade. A produção industrial de junho foi 1,1% maior que a de maio, no quarto aumento mensal consecutivo. Além disso, pela primeira vez no ano tiveram variação positiva todas as grandes categorias – bens de capital, bens intermediários e bens de consumo de todos os tipos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da melhora, o caminho da recuperação ainda será longo e o ritmo dependerá da confiança de empresários e consumidores e, naturalmente, das condições políticas. A conclusão do processo de impeachment, com o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff, é um pressuposto de todas as projeções mais otimistas.


Depois de quatro meses de melhora, com avanço acumulado de 3,5%, a produção da indústria geral ainda foi, em junho, 6% inferior à de um ano antes. O volume fabricado no primeiro semestre ficou 9,1% abaixo do contabilizado no período de janeiro a junho de 2015. Em 12 meses a queda ficou em 9,8%.

A maior perda acumulada ainda é a dos fabricantes de bens de capital (máquinas e equipamentos), segmento especialmente importante porque dele depende o crescimento – ou, no mínimo, a manutenção – da capacidade produtiva das empresas. Esse foi o único ramo com expansão ao longo de todo o semestre, mas, apesar disso, o volume de sua produção, em junho, ainda foi 3,6% menor que o de um ano antes, com redução acumulada de 26,2% em 12 meses.

Mesmo depois de meses seguidos de reativação, a produção geral da indústria continuou 18,4% menor que a de junho de 2013, quando foi alcançado o último pico. A de bens de capital permaneceu, em junho, 41,3% abaixo do ponto alcançado em setembro daquele ano. Este número dá uma boa ideia de como o ambiente e a confiança do empresariado se deterioraram já no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Em 2014, quando a economia cresceu apenas 0,1% e a indústria recuou 3%, as condições da recessão já estavam muito bem caracterizadas.

Não bastará, portanto, cobrir a distância até o nível de produção do ano passado para a indústria retomar um padrão normal de atividade. O setor definhou muito mais do que mostra a comparação dos números deste ano com os de 2015. Os danos causados pelos erros e atos irresponsáveis da administração petista, especialmente da última, só serão sanados depois de longa recuperação e de muito investimento em ampliação e modernização da capacidade produtiva.

Alguns empresários ainda reclamam, estranhamente, a manutenção dos incentivos e benefícios dos últimos anos, como se ignorassem o custoso e escandaloso fracasso da política de favores e protecionismo.

A recessão, especialmente severa na indústria, é consequência dessa estratégia, voltada mais para o benefício e conforto de grupos e setores eleitos como favoritos da corte do que para a eficiência, a integração global e a capacidade de competir e de gerar empregos produtivos. A recuperação do setor e a construção de uma indústria competitiva dependerão de uma inversão das políticas implantadas em 2003, quando se levantaram em Brasília as bandeiras do populismo e do terceiro-mundismo. Mas a confiança retorna.

Por exemplo, no setor automobilístico, um dos mais atingidos pela crise, as boas notícias começam a acumular-se. De junho para julho as vendas de veículos novos aumentaram 5,59%, segundo a Fenabrave, a federação das distribuidoras. Em sete meses, no entanto, o total vendido ainda foi 24,68% menor que o de um ano antes. Mas “o pior já passou”, disse o presidente da entidade, Alarico Assumpção Filho. Essa convicção se deve principalmente, acrescentou, à expectativa de afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff. É uma boa aposta. O fim de um mau governo deverá ser um bom recomeço para o País.

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