quinta-feira, 4 de agosto de 2016

As decisões de agosto - Roberto Freire

Blog do Noblat / O Globo

Considerado um mês altamente simbólico para a política brasileira, marcado por episódios traumáticos que mudaram os destinos do país – entre os quais o suicídio de Getúlio Vargas e a renúncia de Jânio Quadros –, agosto se apresenta novamente com a perspectiva de reunir acontecimentos importantes na vida nacional. Embora não tenha a mesma carga que em anos anteriores, o mês que se iniciou há poucos dias será rico em fatos capazes de alterar profundamente a nossa realidade, dependendo do desfecho de algumas decisões que serão tomadas nas próximas semanas, especialmente no Congresso Nacional.

As atenções da sociedade se voltam, primordialmente, para o Senado Federal, que julgará Dilma Rousseff e deve sacramentar o impeachment em decorrência dos crimes de responsabilidade cometidos pela presidente afastada. É evidente que os senadores serão sensíveis à vontade da maioria da população brasileira, que deseja ver a petista bem longe da Presidência da República, e virarão essa página infeliz de nossa história de uma vez por todas.

Este é o momento de fazer valer a letra da lei, cumprir o que diz a Constituição e oferecer as condições para que o presidente Michel Temer exerça o cargo em sua plenitude, seguindo na trilha da recuperação da credibilidade do Brasil e construindo as bases para que o país saia do atoleiro econômico em que se encontra após 13 anos de lulopetismo. O processo democrático e constitucional do impeachment, que atendeu a todos os requisitos institucionais e legais, já vem se arrastando há meses e precisa ser concluído o quanto antes. Com o afastamento definitivo de Dilma, Temer terá a oportunidade de representar a nação na reunião de cúpula do G20, em setembro, na China, já como presidente efetivo da República.

Além do impeachment, agosto também será marcado pela cada vez mais provável cassação de mandato do deputado afastado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, envolvido em gravíssimas acusações de corrupção desnudadas pela Operação Lava Jato. Curiosamente, os destinos de Dilma e Cunha, apontados como adversários ferrenhos durante todo esse processo, devem ser selados praticamente no mesmo período. Ao fim e ao cabo, são dois fatos que ajudam o Brasil a prosseguir na marcha da sensatez que vem trilhando para superar as crises política, econômica, social e moral.

Por fim, logo nos primeiros dias de agosto o país estará tomado pelo espírito olímpico, com o início dos Jogos do Rio de Janeiro, que já enfrentam problemas e percalços. Quando o Brasil foi escolhido o país-sede da Olimpíada, ainda em 2009, a impressão era a de que vivíamos um nirvana. O clima de euforia gerado pela sensação aparente de crescimento econômico e prosperidade – ilusão alimentada por Lula e pelo PT – fez os brasileiros comprarem um sonho cuja fatura vem sendo cobrada até hoje com muito sofrimento e dificuldade, como um verdadeiro pesadelo.

Pessoalmente, sempre entendi que o país não deveria ter patrocinado esse projeto megalômano de trazer os Jogos Olímpicos para o Rio, pois tínhamos e temos questões mais urgentes a resolver. De todo modo, a realidade está dada e o que interessa agora é torcer para que o evento seja realizado da melhor forma possível, sem sobressaltos e com resultados positivos para a delegação brasileira. O que se espera é que, ao contrário do que houve na Copa do Mundo de 2014, desta vez os estádios e arenas construídos não se transformem em “elefantes brancos” abandonados após as competições – e que não se acumulem denúncias de corrupção e irregularidades na construção dos aparelhos esportivos. Que o Rio e o Brasil recebam o mundo de braços abertos, em paz e com alegria, fazendo da Olimpíada uma grande festa de congraçamento entre os povos.

Tudo indica, afinal, que o mês de agosto será novamente repleto de acontecimentos determinantes para a história que o país escreverá daqui por diante. As decisões tomadas no Parlamento serão um primeiro passo para a retomada de um saudável ambiente de normalidade política e institucional. Depois que agosto passar, sem Dilma, sem Eduardo Cunha e ainda no rescaldo da festa olímpica, o Brasil certamente será um país melhor, mais feliz e confiante em seu próprio futuro.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

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