segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Corrida de obstáculos – Editorial / Folha de S. Paulo

A equipe brasileira teve o melhor desempenho da história dos Jogos Olímpicos. Superou sua melhor classificação na tabela em número de medalhas de ouro e também de pódios e esteve perto da meta do Comitê Olímpico do Brasil (ficar entre os dez primeiros) em termos de total de láureas.

Não chegou perto, porém, dos resultados das potências esportivas que sediaram a Olimpíada nos últimos 50 anos.

Os números nacionais destoam dos indicadores econômicos e sociais do país. O Brasil alcançou o 13º lugar na classificação dos Jogos do Rio. Em renda per capita ou em desenvolvimento social, a posição brasileira no ranking mundial anda perto do septuagésimo lugar.


Tais estatísticas, porém, nem de longe dizem tudo sobre as perspectivas em Olimpíadas. Além da qualidade de vida, o desempenho nos esportes de elite está ainda relacionado a tradições esportivas e a desejos de projetar a imagem do país.

Isto posto, o que fazer da ansiedade nacional por se destacar no esporte de alto nível? Quais são o interesse, o custo e o benefício?

Apesar do resultado recorde no Rio, o governo investiu soma consideravelmente maior nestes Jogos. Em cálculo rudimentar, o custo por medalha aumentou. Em linhas gerais, no entanto, o desempenho não ficou muito longe da média recente em termos de pódios.

Desde a Olimpíada de Atlanta, em 1996, as equipes brasileiras vinham conquistando algo em torno de 1,5% das medalhas. Antes de Atlanta, o esporte nacional ficava com um terço disso.

Tornam-se cada vez mais altos os custos de alcançar resultados melhores apenas por meio do investimento em poucos atletas de nível internacional. Parece não haver progresso substantivo de benefícios, em termos de medalhas, imagem e, mais importante, melhorias sociais gerais.

Desde que o Brasil se dedicou mais a satisfazer seu desejo de projeção esportiva, quando decidiu sediar a Olimpíada, não houve programa consistente de disseminação da cultura esportiva no país: de práticas saudáveis, de educação esportiva e de competições de base, a começar pelas escolas.

Tal programa teria o efeito de, a médio prazo, multiplicar o número de praticantes, facilitar a revelação de talentos e lançar mais luz sobre a saúde de jovens e sobre a situação material das escolas.

Um programa assim poderia satisfazer anseios nacionais de projetar a imagem do país de modo socialmente mais relevante: criando uma massa de atletas, talvez futuros campeões, em vez de se fiar apenas em gastos nas poucas figuras excepcionais que ainda dominam o esporte olímpico brasileiro.

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