sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Em SP e RJ, falta de estrutura marca campanha eleitoral

Por Cristian Klein, Fernando Taquari e Estevão Taiar – Valor Econômico

RIO E SÃO PAULO - Na periferia, uma caixa de som sobre rodinhas é empurrada pelas calçadas ou, na falta de espaço, vai pela própria rua, grudada ao meio-fio, enquanto os veículos passam raspando. O tempo já não é mais para grandes comboios com carros e caminhões a romperem bairros anunciando o candidato a prefeito com soberba e estardalhaço. Na eleição em que os gastos estão limitados a tetos e as doações de empresas foram proibidas, as campanhas deste ano já mostram nos primeiros dias os efeitos das novas regras.

A claque de militantes contratados que cercava o candidato e aumentava a sensação de apoio pelas ruas diminuiu. O material de campanha é escasso. A passagem não deixa o rastro do desperdício de santinhos espalhados pelo chão. Na praça, a candidata a vereadora pede à filha que preencha à mão, com uma caneta Bic, um bolo de cartões com seu nome e o número eleitoral.


É mais franciscana a corrida municipal deste ano. O concorrente a prefeito no Rio pelo PMDB, Pedro Paulo, prefere outra expressão. "É campanha manicure", diz, numa referência ao trabalho de se andar mais a pé e de se apertar e entregar em mãos a propaganda para convencer o eleitor.

Com menos dinheiro e os programas de rádio e TV mais curtos, fala-se menos da figura do marqueteiro. Nas palavras do candidato do PSDB, Carlos Osorio, será uma campanha mais intimista, com menos parafernália. "Aquele negócio de jogar papel no meio da rua, com um trilhão de pessoas entregando santinhos, não existe mais. Nem aquela estrutura gigante, com dois, três, quatro carros de som, e de pessoas contratadas indo atrás, porque não tem mais como ter", afirma o tucano, que não diz quanto pretende gastar, mas destaca que o valor não será "nem perto" de R$ 14 milhões - teto para o primeiro turno, equivalente a 70% da maior despesa de candidato a prefeito no Rio em 2012.

Em São Paulo, na primeira semana de campanha os santinhos e carros de som também diminuíram na comparação com eleições passadas. O prefeito Fernando Haddad (PT) visitou Sapopemba, bairro de periferia na zona leste, na quarta-feira sem nenhum alarde. Chegou em um carro comum, com poucos assessores e militantes, que não distribuíram nenhum tipo de material do candidato. A única referência direta a Haddad era o jingle da campanha, que tocava insistentemente na igreja em que ele discursou.

Paulo Fiorilo, vereador e presidente do PT na capital paulista, diz que o material de campanha "vai ganhar mais volume" nas próximas semanas, mas admite que esta será uma disputa "com menos custo, menos papel, menos som". Ele calcula que a campanha de Haddad gastará aproximadamente R$ 20 milhões, o que representa uma queda de 70% em relação aos R$ 67 milhões de 2012.

A exemplo de Haddad, Marta Suplicy (PMDB) tem adotado um estilo franciscano neste início da corrida pela Prefeitura de São Paulo. Em três dias de campanha, a ex-prefeita foi às ruas pedir voto apenas no primeiro, quando teve duas agendas em Guaianases, na zona leste. Na ocasião, chegou em carro próprio, acompanhada de assessores, enquanto militantes trazidos pelo ex-deputado Luiz Moura - expulso do PT por suspeita de envolvimento com o PCC - aguardavam sua chegada com uma quantidade reduzida de panfletos.

Nos outros dois dias, Marta realizou apenas gravações, conforme sua assessoria. "Com as novas regras, a campanha vai se restringir aos programa de TV e a gastar sola de sapato", afirmou o presidente municipal do PMDB e coordenador da campanha, José Yunes. "Em uma campanha que carece de recursos, qualquer custo é ruim", acrescenta Yunes ao justificar a ausência de bandeiras, carro de som e da própria candidata nas ruas da cidade nesta semana.

Mas nem todos seguiram essa regra na capital paulista. Candidato pelo PRB e líder nas pesquisas, Celso Russomanno visitou a Vila Nova Cachoeirinha na quinta-feira acompanhado de dois carros de som - um próprio e outro do PSC, partido que compõe a sua coligação. Seus assessores distribuíam a quem pedisse uma foto autografada do candidato. Havia seguranças, assessores e militantes, que carregavam bandeiras com o símbolo do PRB.

Já João Doria (PSDB) fez em média duas agendas por dia. O tucano, que pretende financiar a maior parte dos R$ 20 milhões estimados para o primeiro turno com recursos do próprio bolso, iniciou a campanha com santinhos, panfletos e bandeiras. Ontem, foi mais comedido. Ao lado de vereadores e candidatos a uma vaga na Câmara, apenas distribuiu alguns panfletos em uma feira livre no Jardins, no mesmo bairro em que mora. Mesmo com um patrimônio de R$ 180 milhões, Doria negocia com a direção do PSDB uma contribuição do fundo partidário.

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