quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Julgamento final começa, e Temer já prepara posse

• Após nove meses, etapa decisiva do processo pode durar sete dias

Conclusão da ação no Senado terá depoimento da petista e de testemunhas

Nove meses depois de a Câmara abrir o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Senado inicia hoje o julgamento final da petista no mesmo plenário onde Fernando Collor foi cassado há 24 anos. O capítulo decisivo, que começa com o depoimento de testemunhas, deve terminar na terça ou quarta que vem. Certo de que Dilma será condenada, auxiliares do presidente interino, Michel Temer, já preparam sua posse.

O capítulo final

• Até aliados de Dilma admitem que impeachment deverá passar; Temer já prepara posse

Júnia gama, Cristiane Jungblut e Eduardo Bresciani - O Globo

-BRASÍLIA- Nove meses após o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter aceitado a denúncia com o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, o Senado inciará hoje o julgamento que deverá consolidar, definitivamente, a troca de comando no país. Caso se confirme a condenação, Dilma, afastada do cargo desde 12 de maio, quando o Senado aceitou o processo contra ela, será a segunda presidente na história republicana brasileira a sofrer impeachment — 24 anos depois de Fernando Collor de Mello ter o mandato abreviado em meio a denúncias de corrupção.


Na contagem de votos, tanto na base aliada do interino, Michel Temer, quanto na oposição, comandada pelo PT, há número suficiente para a condenação de Dilma.

Até a noite de ontem, 52 senadores haviam declarado ao GLOBO voto favorável ao impeachment. São necessários 54 votos (dois terços do total dos 81 senadores) para cassar o mandato. Reservadamente, senadores que evitam se manifestar publicamente admitem que se posicionarão contra Dilma, o que torna muito difícil a tentativa da petista de reverter o cenário.

O julgamento que começa hoje será o desfecho do mais grave capítulo da crise que dominou o país desde a reeleição da presidente, em outubro de 2014, por uma diferença de 3,5 milhões de votos. No entanto, seu afastamento definitivo não é garantia de que haverá tranquilidade no meio político. O julgamento se inicia justamente na semana em que Temer enfrenta a pior crise em sua base aliada desde que ascendeu interinamente ao poder, com o confronto entre PSDB e PMDB em torno do compromisso com o ajuste fiscal.

A presidente afastada será julgada pela acusação de ter praticado crimes de responsabilidade devido aos atrasos de repasses do Tesouro ao Banco do Brasil por despesas do Plano Safra (de crédito agrícola) e à edição de decretos de crédito sem autorização do Congresso. De acordo com o Senado, esses atos violariam dois artigos previstos na Lei de Impeachment.

Tamanha é a certeza de que a cassação de Dilma será aprovada que Temer já pensa em sua cerimônia de posse. No Planalto, a ordem é que o serviço seja “rápido, simples e sóbrio”. Após assinar o termo de posse no Senado, Temer depresidente verá embarcar em sua primeira viagem internacional, tendo o G-20, na China, como destino.

Apesar da expectativa de mobilização popular inferior àquela observada em abril, quando o processo foi instaurado na Câmara, um forte esquema de segurança foi montado em Brasília para evitar maiores tumultos durante o julgamento, que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, qualificou como “uma das mais graves competências” do Senado. O ministro do Supremo, que presidirá o julgamento, definiu com os senadores as regras do processo, que pode durar até sete dias e terá, na próxima segunda-feira, um dos pontos mais esperados: a defesa pessoal de Dilma no Senado. Ontem, a presidente afastada fez seu última ato público antes do julgamento.

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