sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Lewandowski se equilibra entre pressão de processo histórico e apelos do PT

Lewandowski ‘atualiza’ currículo após relatar processo do mensalão

• O ministro, nomeado em 2006 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o STF, deixa para trás a imagem de magistrado ligado ao PT e preside o julgamento do impeachment de Dilma Rousseff

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Desde o último dia 9, quando começou a fase da pronúncia do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, o ministro Ricardo Lewandowski, quatro assessores e três juízes auxiliares se acostumaram a deixar o Supremo Tribunal Federal após as 22 horas. Lewandowski acumula as presidências do STF e do processo de afastamento de Dilma.

Até o início da semana, era depois das sessões da Corte, que duram até as 18 horas, que os trabalhos na presidência sobre o impeachment começavam. Na reta final, chegou a se distrair em um debate constitucional com os outros ministros: “Desculpem, estou com uma questão importante do impeachment”, justificou-se. Desde ontem, Lewandowski dedica o dia todo às sessões no Senado.


O ministro, nomeado em 2006 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o STF, ganhou uma imagem de magistrado ligado ao PT com sua atuação no processo do mensalão – do qual foi revisor e fez contraponto ao relator, Joaquim Barbosa. Recentemente, Lewandowski virou até boneco inflável levado nas manifestações de rua contrárias ao governo Dilma. O “Petrolowski” é um boneco com a imagem do ministro segurando uma balança – o prato que carrega a estrela do PT pesa mais do que o que leva a bandeira do Brasil.

No dia seguinte à fase da pronúncia, o gabinete de Lewandowski recebeu ligações de parlamentares pró-impeachment. Elogiaram a condução do processo. “Parece até que ele está do nosso lado”, cochichou um tucano graúdo em uma das reuniões com o presidente do Supremo. O clipping pessoal do ministro chegou a quase 400 páginas após a pronúncia. “Para ele, é mais um processo”, diz um assessor no Tribunal sobre a metodologia de trabalho. Outra fonte de sua confiança refaz a frase: “Para ele, é ‘o’ processo”.

A assessores próximos, Lewandowski confidencia: o impeachment é um processo histórico e qualquer desvio da linha da isenção e da legalidade ficará registrado no futuro.

Consciente do tamanho do impeachment na história – e em sua biografia – Lewandowski externou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o desejo de que o processo se encerrasse antes de sua saída da presidência do STF, que acontece no próximo dia 12. Pediu a mesma celeridade para a votação do projeto que reajusta o subsídio dos ministros da Corte.

Se de um lado Lewandowski cuida para não pender aos apelos dos aliados de Dilma, de outro, preocupa-se em não dar margem à tese de que há um golpe no afastamento da petista.

Diálogo. Ao Congresso, Lewandowski costuma apelar por “acordo de damas e cavalheiros”. Nem sempre encontra eco. Descendente de suíços e com educação rigorosa, o ministro relatou a assessores que um dos momentos de maior desconforto no Congresso é cortar o microfone de parlamentares que se excedem, como fez com Gleisi Hoffmann (PT). Nesta quinta-feira, 25, chegou a suspender a sessão por 5 minutos após bate-boca entre senadores pela manhã.

Ao Senado, Lewandowski fez um único pedido: um local para utilizar no curso do processo. A sala de Jorge Viana (PT), vice-presidente do Senado, foi cedida. Lá conversa com os assessores, come e também se abriga das selfies do senador Magno Malta (PR). Celebridade no Instagram, com mais de 68 mil seguidores, Malta teve mais de mil curtidas em uma das fotos que postou com “Lewandovsky” – como escreveu na rede.

Considerado próximo do ex-ministro José Eduardo Cardozo, defensor de Dilma, Lewandowski decepcionou aliados da petista ao negar pedidos para tentar barrar o processo. O ministro, avaliam, já pensa na sobrevivência no Tribunal após caso.

Há especulação sobre um acordo com o Planalto para a aposentadoria precoce. Em troca, estaria a indicação a um órgão internacional. Assessores dizem que ele continua no STF – e com currículo atualizado, no qual deixa para trás os votos de absolvição de petistas no mensalão e conclui o impeachment de Dilma.

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