quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Manobra de defensores de Dilma para adiar sessão falha

• Convocação de nova testemunha é rejeitada, em nova derrota

Simone Iglesias, Cristiane Jungblut - O Globo

-BRASÍLIA- O PT tentou ontem uma manobra para suspender a reunião da comissão especial de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, mas não foi bem-sucedido. Assim que começou a sessão para a leitura do relatório favorável ao afastamento da petista, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) propôs a convocação do procurador do Ministério Público do Distrito Federal, Ivan Marx. Lindbergh queria que Marx repetisse seu parecer sobre a inexistência de crime de responsabilidade nas “pedaladas fiscais” em 2015.

O presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), no entanto, disse que o prazo para escuta de testemunhas já se encerrara e que a inclusão de nova testemunha poderia ser feita mais adiante, quando o impeachment for julgado pelo plenário do Senado.

Atuando como advogado de defesa de Dilma, o ex-ministro José Eduardo Cardozo disse que há precedente no caso de Fernando Collor. Naquela ocasião, mesmo após as alegações finais, uma nova testemunha — no caso o então ministro Marcílio Dias — foi ouvido por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

Voto em separado
Os senadores de PT, PCdoB, e Kátia Abreu (PMDB-TO) apresentaram voto em separado no qual culpam o PSDB, o Tribunal de Contas da União (TCU), o presidente interino, Michel Temer, e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pelo “golpe branco e manso” contra a petista. “Mudaram os eufemismos e as circunstâncias históricas, mas golpe é sempre golpe”, diz trecho do texto.

No documento, os dilmistas dizem que a presidente afastada é vítima de “machismo e misoginia”. O PT responsabiliza os tucanos por encontrarem no impeachment a solução para o terceiro turno eleitoral, já que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi derrotado por Dilma nas urnas.

Ataques a Eduardo Cunha
Criou-se na sociedade, segundo os petistas, a mensagem de que o governo eleito não tinha legitimidade, pois havia sido eleito com os votos de “pessoas ignorantes”, “compradas” por programas sociais.

O voto do PT cita o ministro da Propaganda do governo nazista alemão, Joseph Goebbels, como exemplo seguido pelos partidos contrários a Dilma.

“O ódio se aprende com desinformação, com distorção e com mentiras. Foi necessário repetir à exaustão, como ensinava Goebbels, que os problemas da Alemanha tinham sua origem nos ‘ratos judeus’ para que o Holocausto se tornasse palatável. No Brasil, a estratégia foi repetir, de forma sistemática, mentirosa e distorcida, que os governos do PT eram os mais corruptos da História do Brasil e que haviam submergido o país na sua pior crise”, sustenta o voto.

Cunha foi chamado de “artífice do golpe”. Ele, segundo os petistas, teria usado sua influência para mobilizar o Congresso pelo impeachment.

Há um capítulo reservado ao vice de Dilma e atual presidente interino, Michel Temer, chamado de traidor. O PT diz que ele teve como aliados o PSDB, a quem prometeu não tentar a reeleição em 2018, e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O PT diz ainda que o TCU teve papel fundamental, produzindo munição contra a presidente.

Petista cita “misoginia”
“Na construção do golpe, o Tribunal de Contas da União desempenhou papel de protagonista. Ao julgar as contas de governo de 2014 produziu munição por quase um ano, para ‘sangrar’ a imagem de Dilma Rousseff, alimentou o debate e serviu de justificativa para o pedido de impeachment contra a presidenta”, afirma o PT.

Num “gesto contra a misoginia”, como defendeu Lindbergh, as senadoras Gleisi Hoffmann (PT-PR), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), e Kátia Abreu (PMDB-TO) se revezaram para ler o voto em separado, durante 30 minutos reservados a elas pelo presidente da comissão.

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