sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Opinião do dia – Claudio Napoleoni

A filosofia moral de Smith acha-se vinculada a uma linha de pensamento que, na Inglaterra do sec. XVIII, nasce como reação ao selfish system de Hobbes, ou seja, a afirmação de um estado natural no qual cada comportamento humano somente possui como objetivo a mera autoconservação, ou egoísmo de cada indivíduo e do qual se alguma vez se tornar possível su realização integral, decorreria uma guerra geral e desagregadora entre os seres humanos. Para os fins que temos em mira, será interessante assinalar a consequência que deriva dessa filosofia moral no terreno da política – consequência que, como já se observou, é traçada com extremo rigor pelo próprio Hobbes. Se os atos humanos não possuem outro objetivo natural que não o egoísmo, torna-se impossível a constituição da sociedade sem a intervenção coercitiva do Estado; dito de outra forma a política não é considerada simplesmente como a atividade ordenadora de uma sociedade que extrai seu próprio fundamento e seu próprio princípio de uma tendência natural e espontânea dos homens no sentido da construção de um tecido de relações recíprocas estáveis; a política, então, converte-se no meio ao qual todos os homens são encaminhados ,pelo temor, como contrapartida a uma tendência natural à desagregação. Ou seja, a política seja a ser a própria fonte da vida social. Portanto, inexiste uma sociedade civil que, em sua ordem natural, preceda logicamente ao Estado; ao contrário, é exatamente em virtude da constituição desse Estado que a sociedade se forma. Consequentemente, a sociedade subsiste apenas enquanto os homens renunciem à própria liberdade; ou seja, segundo Hobbes, enquanto o homem renuncie às suas próprias tendências centrífugas e destrutivas em favor da autoridade estatal, qualquer que seja a forma pela qual esta venha a se configurar constitucionalmente.
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Claudio Napoleoni (1924-1988) foi economista e político italiano, ex-senador na lista do antigo PCI.. ‘Smith, Ricardo, Marx’, 6º Edição, pp. 40-1. Edições Graal Ltda, Rio de Janeiro, 1988.

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