sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Petista diz que Dilma "não ajuda partido em nada"

Por Cristiane Agostine – Valor Econômico

SÃO PAULO - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, criticou ontem a proposta de plebiscito para antecipar a eleição presidencial, defendida pela presidente afastada Dilma Rousseff. Para Falcão, a medida não tem viabilidade e não ajudará Dilma a conquistar votos dos senadores contra seu impeachment.

O dirigente afirmou ainda que a proposta gera mais desgaste à presidente afastada, ao indicar que a petista estaria desistindo do mandato antes do fim do julgamento do impeachment pelo Senado. "Não vejo nenhuma viabilidade para esse tipo de proposta", disse, depois de reunir-se com a Executiva nacional do PT, em São Paulo.

Dilma deve apresentar uma carta no dia 10 com a defesa de plebiscito para uma nova eleição presidencial, além de sinalizações de mudanças na política econômica, caso volte à Presidência.

O presidente do PT, no entanto, disse que não há como uma nova eleição à Presidência ser feita antes de 2018, quando acaba o mandato da petista. Em crítica indireta à presidente afastada, afirmou que "qualquer pessoa que conheça minimamente os processos" sabe que a medida não é viável.

Mesmo que volte ao cargo, Dilma teria que pedir autorização para o Congresso para convocar o plebiscito. Para antecipar a eleição, o Supremo Tribunal Federal teria que se pronunciar se o tema é uma cláusula pétrea ou não. Se não for, será preciso votar a medida em uma proposta de emenda à Constituição (PEC), que precisa de duas votações na Câmara e no Senado com a aprovação de dois terços dos parlamentares. Depois de passar pelo Congresso, a proposta só poderia valer depois de um ano. "Significa que novas eleições se realizariam em 2018, na melhor das hipóteses", afirmou o dirigente.

O presidente nacional do PT disse que até mesmo os senadores que defendiam a medida, como Lindbergh Farias (PT-RJ), já desistiram, por saber que é inviável. Para Falcão, Dilma deveria tentar convencer os senadores de que fará uma recomposição do governo, com maior equilíbrio na distribuição de cargos entre os parlamentares da Câmara e Senado e entre os Estados, caso volte à Presidência. A votação final do impeachment está prevista para o fim deste mês.

Além da discordância em relação a propostas de Dilma, integrantes do PT têm feito críticas diretas à presidente afastada. Ontem, depois de a Comissão do Especial do Impeachment no Senado ter aprovado relatório favorável à saída definitiva de Dilma do cargo, o presidente estadual do PT do Rio de Janeiro, Washington Quaquá, reclamou do desgaste do partido. "Ela não nos ajudou em nada", disse. Para Quaquá, a política econômica adotada por Dilma colocou o PT "no buraco". "Ela fez uma troca de sinais que nos indispôs com nossa base social."

O dirigente afirmou que a aprovação do impeachment é praticamente irreversível. "A chance de reverter é a mesma de os deputados, senadores, de os políticos ficarem honestos", disse, depois da reunião da Executiva nacional do PT. "Só se Deus tocar no coração deles. Mas o Deus deles parece o Jesus.com", ironizou, em referência a uma das empresas do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Daquele Congresso não se espera nada". Quaquá disse ainda a influência de Dilma no partido será limitada. "Ela nunca teve muita participação interna no PT. Continuará como sempre esteve".

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