sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Se for confirmado no cargo, Temer poderá ser recebido por Obama

• Autoridades americanas já estudam reaproximação com o governo brasileiro

Henrique Gomes Batista - O Globo

-WASHINGTON- Oficialmente, o governo americano segue cauteloso e afirmando confiar nas instituições democráticas do Brasil para a solução definitiva e constitucional da crise política, sem se envolver no mérito do impeachment. Mas, aos poucos, autoridades de Washington começam a ver cada vez mais clara a possibilidade de um “reset”, um reinício na relação entre as duas maiores nações da América, com o fim do julgamento definitivo de Dilma Rousseff — que teve em seu mandato a polêmica espionagem americana sobre suas comunicações. Nova agenda já vem sendo elaborada para a criação de novas parcerias.


Se Michel Temer for confirmado no cargo e seguir para a reunião do G-20 na China na próxima semana, está no radar das autoridades das duas nações uma rápida reunião bilateral com Barack Obama, apesar de a Casa Branca não comentar nem descartar oficialmente esta possibilidade. Obama, por sua vez, tende a convidar o Brasil para a reunião de cúpula que a ONU fará sobre a situação dos refugiados, em 19 de setembro, quando pretende conseguir um compromisso maior de Brasília na questão. O evento acontecerá na véspera da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que é sempre aberta pelo presidente brasileiro e deverá contar com a presença de Temer.

O governo americano quer que o Brasil se comprometa a receber mais refugiados sírios e a arcar com parte das despesas deste problema. Pode ser pedido ao Brasil, por exemplo, o recebimento de mais 3 mil sírios. O país já recebeu 2.298 refugiados sírios, segundo o Conselho Nacional para Refugiados, do Ministério da Justiça. Outros países, como a Argentina, também deverão ser convidados para o evento. Esta deve ser a grande bandeira de Obama nos últimos 5 meses de mandato. Essa fase final de governo pode ser um problema para avanços mais sólidos com o Brasil.

Além da questão dos refugiados, os EUA esperam avanços nas áreas comercial, ambiental e de segurança. O bom desempenho do Brasil na Olimpíada, evitando ataques terroristas, impressionou Washington, que atuou em parceria com autoridades brasileiras na questão e no combate ao vírus zika. Muitos americanos veem a possibilidade de uma nova relação entre as duas nações, que ainda se estranham: o Brasil, junto com a Índia, é um dos países que mais votam contra propostas americanas na ONU, por exemplo.

As expectativas brasileiras seguem altas. Sérgio Amaral deve assumir a embaixada de Washington até 5 de setembro no lugar de Luiz Alberto Figueredo, ex-chanceler do governo Dilma, que irá para Portugal. Amaral tem como objetivo melhorar a relação comercial entre os dois países. Nos próximos meses deve ocorrer o primeiro embarque de carne brasileira para os EUA. Novos acordos seguem no radar.

Amaral ainda poderá fazer o Brasil avançar no Global Entry, o mecanismo que facilita a entrada nos EUA dos visitantes frequentes, que poderão fugir da lenta vistoria de passaporte. A aplicação dessa possibilidade para brasileiros depende de Brasília, que estuda formas de atender às exigências dos americanos — que pedem muitos dados dos que querem aderir ao programa.

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