quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Tarso diz que PT precisa promover troca de comando

Por Fernando Taquari - Valor Econômico

PORTO ALEGRE - O PT deve estabelecer um pacto interno para abrir espaço a novos dirigentes e promover uma renovação programática no médio e longo prazo. Para Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, autor da frustrada proposta de " refundação" da sigla em 2005, no auge do período do mensalão, época em que foi presidente do partido por alguns meses, essa é a única alternativa ao partido para superar sua pior crise em 36 anos de história.

O sucesso de uma refundação a partir do impeachment, cuja fase final se inicia hoje, passa pela criação de uma ampla frente de esquerda, composta não apenas por filiados e militantes do PT. Nesse período, segundo o petista, a sigla não tem que se preocupar com o "imediatismo" das eleições.

"O PT precisa abrir seu núcleo para a nova geração que não tem relação com essa crise que está aí. Devemos buscar um pacto político interno capaz de dar estabilidade a uma nova direção do partido", diz Tarso. O ex-governador entende que uma mudança no programa partidário deve levar em conta a relação de interdependência entre o Brasil e a economia financeira global. "Isso requer um exame completo de como funciona a economia brasileira e como ela pode funcionar em um novo ciclo de desenvolvimento", afirma. "Não estou falando em nacionalismos e autossuficiência. Isso não existe mais. O Brasil deve ter mais presença no comércio mundial e nas relações internacionais para se equiparar aos seus parceiros nesse mundo multipolar", acrescenta.


Tarso observa que não faz mais sentido realizar a distribuição de renda com base nas commodities, como ocorreu nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. "Podemos fazer a distribuição de renda conforme a reestruturação do sistema tributário e da política fiscal", diz o ex-governador gaúcho, que propõe a taxação de grandes fortunas e um sistema de impostos progressivo.

Tarso avalia que a renovação pode fazer do partido novamente um exemplo para a esquerda mundial e latino-americana. Por isso apela para que os correligionários que compartilham das mesmas ideias passem a falar diretamente com a sociedade. "Sem romper a disciplina do partido, mas que se possam colocar como alternativa, falando como um conjunto de dirigentes que demarcam sua posição em relação às posições tradicionais do partido", explica o ex-governador, que integra a corrente Mensagem ao Partido. "Temos entre 20 e 30 deputados que pensam mais ou menos da mesma forma", diz ele, que nega o isolamento interno.

O petista ressalta que a mudança não representa uma volta ao passado. "As origens estão mortas. É renovação mesmo, da qual padece uma grande parte da esquerda mundial". Os padrões tradicionais da social-democracia e dos partidos desenvolvimentistas, afirma Tarso, estão superados. "As questões enfrentadas hoje pelo excluídos são diferentes de 30 ou 40 anos atrás", diz o ex-governador.

Tarso tem atuado desde o início do ano na construção do Instituto Novos Paradigmas, que reúne cerca de 70 pessoas, entre intelectuais brasileiros e estrangeiros, para tratar de temas como administração pública, controle do Estado e democracia política. Segundo ele, ainda em 2016 está previsto para ocorrer no Rio um evento destinado a discutir o papel da esquerda na América Latina. O debate, no entanto, pode servir como base para a construção de uma ampla frente que o ex-governador considera fundamental no processo de renovação no PT.

"Essa frente tem que pegar todos os setores, desde os centristas democráticos aos progressistas que fazem oposição às reformas neoliberais e que querem redesenhar o modelo de desenvolvimento do país, além dos movimentos sociais mais combativos. É isso que eu chamo de uma frente de esquerda", ressalta. Apesar do apelo pela refundação, Tarso não acredita na hipótese. Avalia que o partido não está preparado para isso. "O PT se desestruturou, foi pouco criativo e acomodou-se no Poder na condição de partido de apoio, e não partido sujeito político".

Para o ex-governador, que foi ministro da Educação de Lula, integrantes da legenda deveriam ter apresentado uma proposta de reforma econômica e política ao país na segunda metade do primeiro mandato de Dilma. "Essa acomodação determinou a paralisia burocrática do PT e essa dependência das relações com o Estado. Não se levou em conta que o custo dessa acomodação política seria muito pesado ", afirma Tarso ao mencionar o processo de impeachment de Dilma.

O petista considera remota a possibilidade de volta da presidente afastada. Além disso, argumenta que o retorno da correligionária ao Palácio do Planalto não serviria para tirar o país da crise, uma vez que o sistema político está falido. "A é uma pessoa digna, moralmente íntegra, mas não se dedicou a compreender esse processo. Levou a ilusão de que, de maneira centralizada, sem ouvir pessoas, sem análise de conjuntura, sem checar suas opiniões com outras, poderia conduzir isso. Esse cenário todo criou condições para que um governo frágil fosse substituído por uma confederação de denunciados e investigados", concluiu.

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