sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Tucanos buscam garantir discurso para 2018

• Tucanos focam no ajuste fiscal para se manterem como os grandes representantes da ala economicamente mais liberal da sociedade brasileira

Paulo Celso Pereira - O Globo

Desde o momento em que a possibilidade de um impeachment da presidente Dilma Rousseff começou a crescer no ano passado, uma preocupação passou a rondar a cúpula do PSDB: a partir da ascensão do PMDB ao poder, que papel restaria ao partido que desde 1994 polarizou a disputa pela presidência com o PT?

Michel Temer chegou ao Planalto, montou um governo de amplo espectro partidário e os tucanos tornaram-se, na prática, apenas mais uma legenda da ampla base parlamentar peemedebista. É para tentar se manter como protagonista do processo político nacional que os tucanos decidiram assumir a linha de frente das críticas à suposta fragilidade do ajuste fiscal de Temer.


Se o PT, na oposição, se tornará a grande força contra as medidas econômicas, o PSDB quer mostrar-se como a grande força a favor do ajuste das contas públicas — tentando colocar o governo peemedebista meramente como um executor pouco convicto das ações.

Dessa forma, com um tensionamento que promete se alongar pelos próximos dois anos, o PSDB busca continuar como o grande representante da ala economicamente mais liberal da sociedade brasileira, a começar pelo empresariado e pelo setor financeiro, que já criticam as benesses de Temer a servidores públicos e a estados endividados.

O discurso para 2018 já começa a ser delineado. Caso o governo Temer tenha sucesso no ajuste e consiga retomar o crescimento econômico, os tucanos poderão dizer que, sem a pressão deles, o governo peemedebista não teria tomado as medidas necessárias. Caso o ajuste de Temer fracasse e a economia patine, sobrará para os tucanos a versão de que não foram devidamente escutados.

A um só tempo, as críticas tucanas servem para a defesa de um compromisso fiscal que sempre parte do programa do partido e para a preparação do discurso presidencial, e, de quebra, ainda permitem acertar alguns golpes em um competidor potencial de 2018, o ministro Henrique Meirelles.

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