Por ordem do juiz Sérgio Moro, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigos do ex-presidente Lula, que cumpriam prisão domiciliar, voltam à cadeia. Segundo Moro, Pinheiro, que atuou na reforma do tríplex de Lula em Guarujá, cometeu crimes até pelo menos janeiro deste ano e, por isso, oferece risco de obstrução das investigações. Ele foi levado ontem para a carceragem da PF em Curitiba. Bumlai ficou cinco meses em casa para tratamento de um câncer e terá de se apresentar hoje na PF. O pecuarista admitiu ter feito empréstimo para quitar dívidas do PT.
Ex-presidente da OAS volta à prisão por risco de obstruir investigações
• Bumlai, pecuarista amigo de Lula, tem de retornar à carceragem da PF hoje
Cleide Carvalho, Renato Onofre - O Globo
-SÃO PAULO- Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, voltou a cumprir prisão preventiva ontem, por determinação do juiz Sérgio Moro. Depois de ser levado coercitivamente a depor na Operação Greenfield, que apura crimes contra fundos de pensão de estatais, o empresário foi levado preso para a sede da Polícia Federal, em Curitiba. Pinheiro é o segundo réu da Operação LavaJato a ter prisão domiciliar suspensa nos últimos 30 dias. Em agosto, Moro suspendeu também o benefício dado ao pecuarista José Carlos Bumlai, que ficou cinco meses em prisão domiciliar para tratamento de um câncer. Bumlai deverá se apresentar à PF hoje, às 10h.
O principal argumento apresentado pelo Ministério Público Federal para a necessidade de prisão preventiva de Pinheiro e Bumlai — ambos amigos do ex-presidente Lula —é o risco de obstrução às investigações. Os procuradores da força-tarefa preparam denúncia contra Lula, devido às obras feitas pela OAS no sítio de Atibaia e no tríplex do Guarujá. Os advogados de Lula afirmam que ele não foi beneficiado, pois as duas propriedades não são dele. E tentam transferir as investigações para a Justiça de São Paulo.
A Procuradoria-Geral da República suspendeu a negociação de delação de Léo Pinheiro, por vazamento de informações. Bumlai já admitiu ter feito em seu nome um empréstimo para quitar dívidas de campanha do PT. O pecuarista nunca cogitou fazer delação.
“Difícil de controlar na prática”
O MPF pediu a prisão preventiva de Pinheiro a Moro em março passado. O juiz explicou, em despacho, que não decidiu antes porque aguardava as provas da ação contra o ex-senador Gim Argello, acusado de receber dinheiro de empreiteiras para não convocar seus executivos para depor na CPMI da Petrobras.
Ao determinar a prisão de Léo Pinheiro, Moro argumentou que é difícil controlar iniciativas do empresário para obstrução das investigações com ele em liberdade. Segundo os procuradores, os crimes praticados pela OAS, sob a coordenação de Pinheiro, não se limitaram ao período de 2006 e 2014: estenderam-se, pelo menos, até janeiro de 2016. Procurados, os advogados da OAS não se manifestaram.
“O afastamento efetivo do acusado da empresa, embora afirmado, é algo difícil de controlar na prática e essas iniciativas de obstrução das investigações desenvolvem-se no mundo das sombras, não sendo viável acompanhar as condutas do acusado salvo com o recolhimento cautelar à prisão”, afirmou Moro.
Léo Pinheiro havia sido preso na 7ª Fase da Lava-Jato, em novembro de 2014, e colocado em prisão domiciliar pelo Supremo em abril de 2015. Ao justificar a volta à prisão, Moro ressaltou que ele articulou as empreiteiras para tentar barrar a investigação da CPMI da Petrobras em 2014, já com a Lava-Jato em curso. As provas foram colhidas em mensagens nos celulares do empresário, que foram apreendidos. Numa delas, Pinheiro pede a atuação de Otávio Azevedo, ex-presidente da holding da Andrade Gutierrez e também delator da Lava-Jato.
No pedido de prisão, o MPF afirma ainda que a OAS usou vários operadores para lavar dinheiro e que há indícios de pagamento de propina em obras em todo o país. Cita como exemplos uma linha do metrô de São Paulo, a construção da Arena Fonte Nova, em Salvador, para a Copa e obras do Consórcio Saneamento Alto Tietê. No caso do Metrô de São Paulo, o valor estaria associado à linha 18, Bronze, um projeto dos prefeitos do ABC paulista, ainda em estudo
Os procuradores dizem que, sob o comando de Pinheiro, a OAS também cometeu irregularidades no exterior. Moro lembrou ainda em despacho que Pinheiro já foi condenado por ter pago R$ 29,2 milhões em propinas em contratos da Petrobras, e é acusado em outras três ações em curso. Já foi condenado a 16 anos e quatro meses de prisão.
E ainda é investigado em inquérito que apura possível vantagem indevida ao ex-presidente Lula, no caso do apartamento tríplex no Guarujá. O Edifício Solaris era um empreendimento da Bancoop, cooperativa do Sindicato dos Bancários, que se tornou insolvente. A obra foi transferida para a OAS e o tríplex está em nome da empresa. A defesa de Lula nega que o apartamento seja dele.
“Japonês da federal” está de volta
O agente da Polícia Federal Newton Ishii, conhecido como “Japonês da Federal”, voltou a aparecer na Lava-Jato ontem. Ele ficou quase seis meses longe dos holofotes, após ser condenado a quatro anos e dois meses de prisão por facilitar a entrada de contrabando no país. Ontem, Ishii apareceu conduzindo o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro de volta à prisão.
Ishii, que chegou a ser preso um junho, cumpriu a pena em regime semiaberto harmonizado (sem precisar dormir na prisão), o que lhe permite trabalhar. Conforme a decisão, o agente não pode sair de Curitiba e Região Metropolitana sem a prévia autorização da Justiça. Deve estar em casa entre 23h e 5h durante a semana e está impedido de sair nos fins de semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário