quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Ex-presidente da OAS admite pagamento para abafar CPI

Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo

CURITIBA - Em novo depoimento à Justiça nesta terça (13), depois de permanecer em silêncio, o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, admitiu que pagou cerca de R$ 3,8 milhões para abafar as investigações da CPI da Petrobras, em 2014.

Os pagamentos, segundo o empreiteiro, foram feitos aos ex-senadores Vital do Rêgo (PMDB), atual ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), e Gim Argello (ex-PTB), preso pela Lava Jato, além do deputado Marco Maia (PT-RS).

Os dois primeiros, presidente e vice-presidente da CPI instalada naquele ano, afirmaram que poderiam adiar requerimentos e controlar o calendário da investigação, além de impedir a convocação de determinados empreiteiros.

Eles pediram R$ 5 milhões, mas o empreiteiro só pagou R$ 2,8 milhões. "Eles [Rêgo e Argello] me disseram o seguinte: nós podemos ajudar, e muito. Agora, o senhor vai ter que ajudar financeiramente", declarou Pinheiro.

Maia era o relator da CPI, e pediu R$ 1 milhão para proteger a OAS do relatório final.

O empreiteiro afirmou que o deputado foi "muito incisivo". "Ele me falou: O produto final da CPI é um relatório. Eu tenho preponderância nisso."

Os repasses a Vital do Rêgo, segundo Pinheiro, foram feitos por doações oficiais ao PMDB Nacional, que recebeu R$ 1 milhão da OAS, e por caixa dois, com outros R$ 1,5 milhão.

Argello teria recebido por meio de uma doação a uma igreja do Distrito Federal, de R$ 350 mil, e Maia, por meio de um empresário de seu círculo de relacionamento, cujo nome não foi revelado.

Delação
Pinheiro tentou negociar uma delação premiada com o Ministério Público Federal, mas a negociação foi suspensa recentemente. Ele havia permanecido em silêncio no primeiro depoimento à Justiça sobre a CPI, tema de uma ação penal em que é réu.

"Eu cometi crimes e, para o bem da Justiça e da nossa sociedade, estou aqui para falar a verdade e dizer tudo o que sei", disse o empreiteiro ao juiz Sergio Moro.

Perguntado por um advogado se ainda estava negociando um acordo de delação, Pinheiro optou por permanecer em silêncio.

Berzoini
Pinheiro ainda mencionou a presença do ex-ministro da presidente Dilma Rousseff, Ricardo Berzoini, numa das primeiras reuniões que teve com Argello e Rêgo.

Berzoini estava na casa de Argello, em Brasília, durante uma reunião para tratar do tema, e teria dito que o governo de Dilma estava "preocupado" com a CPI.

"O ministro me relatou que era uma preocupação muito grande do governo Dilma o desenrolar dessa CPI, e que gostaria que as empresas pudessem colaborar para que as investigações não causassem nenhum prejuízo ao governo", afirmou Pinheiro.

Berzoini se retirou após cerca de quarenta minutos, segundo o empreiteiro, que entendeu a presença do então ministro como "um instrumento de pressão".

Outro lado
Em nota, o ministro Vital do Rêgo declarou que "jamais negociou, com quem quer que seja, valores relacionados a doações ilícitas de campanhas eleitorais ou qualquer tipo de vantagem pessoal".

O peemedebista disse que refuta "com veemência" as acusações, que afirma serem "infundadas" e "desacompanhadas de qualquer prova".

O ex-senador Gim Argello nega irregularidades e diz que jamais pediu doação ou propina em troca de abafar a CPI.

O deputado Marco Maia, em nota, negou as acusações de Pinheiro e disse que elas são "fruto de retaliação de um criminoso por mim indiciado na CPMI".

Maia afirmou que não recebeu doações eleitorais de qualquer empresa que foi investigada na CPI, em 2014. "Utilizarei de todas as medidas legais para que a verdade seja estabelecida", declarou.

A reportagem não conseguiu contato com o ex-ministro Ricardo Berzoini.

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