sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Governo Temer, o recomeço - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Michel Temer tem a rara oportunidade de iniciar seu governo duas vezes. Espera-se que se valha do segundo começo melhor do que aproveitou o primeiro.

É verdade que as perspectivas econômicas melhoraram, mas isso ocorre por dois motivos principais que têm pouco a ver com ações do governo. O primeiro é que a administração Dilma, e, com ela, a tendência de agravamento da crise, saiu de cena. O segundo é que o ciclo recessivo vai se esgotando naturalmente.

Em termos de atitudes, porém, o governo Temer ainda não fez quase nada além de manifestar a disposição de aprovar um dispositivo constitucional que fixa teto para os gastos públicos e de promover reformas da Previdência e da CLT. São iniciativas importantes e que até tiveram algum impacto positivo sobre as expectativas, mas que ainda estão confinadas ao campo das intenções.


Concretamente, as decisões do governo têm sido no sentido contrário ao da disciplina fiscal. Em primeiro lugar, ele superfaturou o rombo de Dilma, o que lhe dá a chance de gastar mais. Também aquiesceu a uma série de reajustes para a elite do funcionalismo público que passam a mensagem de que a parte difícil do ajuste vai recair basicamente sobre o lado mais fraco, que são os trabalhadores de menor poder aquisitivo da iniciativa privada e suas famílias.

Se Temer quiser de fato começar a arrumar as contas públicas, permitindo que o país volte a crescer de modo consistente, vai precisar mais do que só manifestar o desejo de acertar. Ele terá de aderir a seu próprio plano de contenção de gastos —o que parece difícil para um governo que foi desenhado para atender a um amplo consórcio de interesses de parlamentares. Um acerto apenas parcial dos problemas, com base em remendos negociados de última hora, me parece o cenário mais provável. Se ele se confirmar, o Brasil fica ainda mais amarrado à chamada armadilha da renda média. É pena.

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